Incerteza sobre privatizações faz com que o futuro da política e da economia seja um mistério

 
Antes de tomar posse como presidente da República, Jair Bolsonaro propagou aos quatro ventos que seu governo adotaria uma política liberal no campo da economia. Essa profecia foi endossada pelos planos do economista Paulo Guedes, que no momento equilibra-se ao máximo para não ser apeado do cargo de ministro.

Mais de dois anos após a estreia do governo Bolsonaro, a economia continua estacionada na vala da mesmice, fazendo com que os desvalidos sofram cada vez mais na esteira de uma crise que piora com o passar do tempo. É fato que a pandemia do novo coronavírus afetou todas as economias ao redor do planeta, mas a situação do Brasil antes da crise sanitária já não era das melhores, pelo contrário.

Entre as muitas promessas feitas no início da atual gestão, a retomada do processo de privatizações foi a que mais chamou a atenção, sem que até o momento nada tenha acontecido nessa seara. Aliás, Bolsonaro disse há alguns dias ser contrário à venda da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), localizada na Zona Oeste da capital paulista. Enquanto isso, a equipe econômica liderada por Guedes avança nos estudos sobre a privatização da maior central de abastecimento da América Latina.

Recentemente, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, anunciou sua saída do cargo diante do marasmo do governo Bolsonaro no campo da desestatização. Ferreira Júnior, que durante 18 anos comandou a CPFL Energia, alegou motivos pessoais para deixar o cargo, mas na verdade a razão foi o pouco avanço no processo de privatização da Eletrobras.

 
Com a eleição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, voltaram à cena política os discursos de retomada de pautas de incentivo à economia, como as reformas tributária e administrativa e as privatizações.

Quem conhece o Parlamento brasileiro em seus meandros sabe que o processo de privatização tende a evaporar, já que o apoio político que o Centrão dedica ao presidente Jair Bolsonaro depende de contrapartidas imediatas, ou seja, de distribuição de cargos em todas as esferas da máquina federal, o que inclui as estatais, em especial as economicamente deficitárias.

Sem o escambo político que domina o Congresso Nacional, Bolsonaro não chegará longe. Na condição de ex-parlamentar, o presidente da República conhece o modus operandi do Parlamento e tem ciência de que sua permanência no poder depende principalmente do cumprimento das promessas feitas durante a disputa das presidências da Câmara e do Senado.

Faz-se necessário lembrar que a então presidente Dilma Rousseff tornou-se alvo de processo de impeachment no momento em que decidiu não atender às demandas de Eduardo Cunha (MDB-RJ), que à época comandava a Câmara dos Deputados.

Esse cenário de incertezas que avança sobre campo político-institucional faz com que a desconfiança dos investidores em relação ao Brasil cresça com o passar dos dias. Além disso, a modorrenta velocidade da vacinação contra a Covid-19 faz com que o País permaneça em compasso de espera no tocante à economia. Algo parecido com o dito popular “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

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