Como destacou o UCHO.INFO em matéria publicada na edição de segunda-feira (10), os novos depoimentos à CPI da Covid, em curso no Senado Federal, serão preponderantes para definir o futuro do presidente Jair Bolsonaro, cuja chance de ser responsabilizado pela tragédia humana decorrente da crise sanitária é enorme.
Se os depoimentos dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, da Saúde, serviram para pavimentar o terreno para os oposicionistas que integram a CPI, a fala do diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, já é considerada complicadora. Isso porque o dirigente da Anvisa confirmou aos senadores que houve por parte do governo a intenção de alterar a bula da hidroxicloroquina, fato destacado por Mandetta, investida que não prosperou.
Para Barra Torres, o “tratamento precoce” para a Covid-19 resume-se a testagem e diagnóstico, jamais o uso de hidroxicloroquina. “Minha posição sobre tratamento precoce da doença não contempla essa medicação, contempla sim a testagem e o diagnóstico precoce e obviamente a observação de todos os sintomas que a pessoas pode ter e tratá-los, combatê-los o quanto antes”, afirmou o diretor da Anvisa.
Evitando citar de forma reiterada o nome do presidente da República, Barra Torres, ao responder aos questionamentos dos integrantes da CPI, mas não se furtou de afirmar que as críticas de Bolsonaro às vacinas vão “contra o que a Anvisa preconiza”.
A declaração do diretor da agência foi uma resposta a questionamento do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que ressaltou a postura discriminatória do presidente da República em relação às vacinas contra Covid-19 e questionou o impacto das declarações no processo de vacinação.
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“O presidente disse que não compraria vacinas da China, chamou a Coronavac de vacina chinesa do João Doria, ao dizer que o governo não as compraria. Comemorou com a frase ‘mais um que Jair Bolsonaro ganha’ a suspensão temporária dos Estudos de fase 3 da Coronavac em razão da morte um voluntário que na verdade tinha se suicidado. Disse que a vacinação não seria obrigatória em seu governo”, relatou Calheiros.
“Todo o texto que Vossa Excelência leu vai contra o que temos preconizado em todas as manifestações públicas, pelo menos aquelas que eu tenho feito, e do que eu tenho conhecimento do que os diretores e funcionários da Anvisa têm feito. Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial. Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão de máscara e álcool em gel imediatamente, não vai acontecer”, afirmou o diretor da Anvisa.
O diretor da agência disse não sofrer qualquer tipo de pressão por parte do presidente da República ou de integrantes da cúpula do governo, mas condenou as aglomerações, um dos itens favoritos do cardápio negacionista de Bolsonaro.
“Sou contra qualquer tipo de aglomeração neste sentido. Além de ser sanitariamente inadequado, eu estava me preparando para estar aqui com as senhoras e os senhores. Eu não concordo (com aglomeração). Qualquer coisa que fala em aglomeração, não usar álcool, não usar máscara, e negar vacina não tem o menor sentido do ponto de vista sanitário”, declarou Barra Torres.
Se por um lado o depoimento de Antônio Barra Torres conseguiu produzir considerável estrago na seara do governo, por outro a reação de Jair Bolsonaro não será das mais moderadas, pelo contrário. Bolsonaro recorrerá, como sempre, às ameaças e aos discursos extremistas, única maneira de manter a horda de apoiadores radicais.
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