Investida de Braga Netto contra a democracia ajudou a preparar o “funeral” da PEC do voto impresso

 
A ameaça do ministro da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), condicionando a realização das eleições de 2022 ao voto impresso, não produziu os resultados esperados pelo governo, pelo contrário. Ou seja, foi um “tiro no pé” dos palacianos.

Revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” em matéria publicada nesta quinta-feira (22), a ameaça chegou a Lira através de um interlocutor político do ministro da Defesa. Ambos, Lira e Braga Netto, negam o conteúdo da matéria publicada pelo Estadão, mas pessoas que presenciaram a ameaça, tanto no ministério quanto na Câmara, confirmam o episódio.

O presidente da República, que silenciou diante do escândalo, tentou terceirizar suas recorrentes ameaças à democracia e ao Estado de Direito. Totalitarista e centralizador, Bolsonaro jamais aceitaria que um integrante da equipe ministerial agisse sem o seu consentimento. Em outras palavras, Braga Netto demonstrou vassalagem ao agir como “boneco de ventríloquo”.

É importante ressaltar o que ocorreu com o ex-ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo e Silva, que pediu demissão, em 29 de março, por se contrapor à pressão de Bolsonaro para politizar os quarteis. Juntamente com Azevedo e Silva, pelo mesmo motivo, pediram demissão os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Outro caso de centralização de poder ocorreu logo após o general Eduardo Pazuello, à época ministro da Saúde, foi desautorizado por Bolsonaro na questão do acordo de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac.

 
A investida antidemocrática de Braga Netto abriu caminho para que a PEC do voto impresso, em tramitação na Câmara dos Deputados e defendida por bolsonaristas, seja “sepultada” em breve. As principais autoridades dos três Poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo) reagiram à ameaça e os presidentes de ao menos 11 partidos políticos se manifestaram a favor da derrubada da PEC, o que deve acontecer em agosto.

Na nota divulgada para contestar a reportagem, Braga Netto afirmou que “todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias”. Resumindo, o teor da nota prova que a ameaça de fato ocorreu.

Se a preocupação do ministro da Defesa é com “a transparência e a legitimidade no processo de escolha dos representantes”, que questione o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, que nas eleições de 2018 foi o mais votado em 94 das 96 seções eleitorais da comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste carioca. Para refrescar a memória do ministro, Rio das Pedras é reduto de Fabrício Queiroz, o operador das “rachadinhas”, e da milícia então comandada por Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020 e criador do “Escritório do Crime”.

O presidente da República tem tropeçado em enredos e roteiros mambembes e populistas, com o claro objetivo de acionar a alavanca do coitadismo. Há dias, Bolsonaro recorreu à “martirização” quando foi internado para tratar de obstrução intestinal, na esperança de que, jogando uma cortina de fumaça sobre a CPI da Covid, a opinião pública fosse reagir a seu favor. A estratégia fracassou.

No caso das eleições de 2022, Bolsonaro e seus subordinados mais radicais tentam criar um ambiente colérico que possibilite a alegação de fraude como forma de justificar a derrota nas urnas. Na verdade, o presidente se inspirou na irresponsabilidade de Donald Trump, que por não aceitar o fracasso eleitoral incentivou a invasão do Capitólio.

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