Se não investir na educação com urgência e responsabilidade, o Brasil terá de abrir mão do futuro

 
(*) Waldir Maranhão

Há muito discute-se no meio político como solucionar os muitos problemas que afetam o Brasil e os brasileiros. Se até o advento do novo coronavírus a sociedade não tinha os olhos voltados para a dura realidade que nos aflige, a pandemia tratou de colocar na vitrine do cotidiano as entranhas de um cenário social grave e preocupante.

Pode parecer insistência de minha parte, mas a solução para os problemas do país encontra-se na educação. Ninguém deve imaginar que essa solução é de curto prazo, já que políticas educacionais eficientes não surgem de passes de mágica, demandam tempo para mostrar resultados. Não se consegue isso em quatro anos, tempo de um mandato presidencial, muito menos em cima do palanque e com discurso fácil.

Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2022, os interessados na reeleição falam em retomada da economia, depois dos estragos provocados pelo coronavírus. Tal oratória tem como missão acenar ao eleitorado com uma promessa que devolva ao cidadão alguma dose de esperança. Tenta-se com esse movimento fingir que serão minimizadas as agruras enfrentadas pelos cidadãos comuns, que têm se equilibrado sobre o fio da navalha do dia a dia para sobreviver.

Fazer com que a economia retome o caminho do crescimento não é tão simples quanto os discursos oficiais, muitos deles recheados de termos técnicos que tornam quase impossível a compreensão do que é falado e prometido.

Não é de hoje que Brasil trata muito mal a educação. E os reflexos desse quase abandono ficaram mais evidentes durante a pandemia, período em que a realidade educacional do país apontou na direção de dias difíceis. Em outras palavras, falar de futuro requer responsabilidade por parte das autoridades, pois do contrário estaremos diante de mais um engodo.

Pesquisas revelam que há no Brasil um contingente de aproximadamente 15 milhões de desempregados. Sem falar nos trabalhadores informais e os subutilizados.

Estudo realizado pelo Instituto Unibanco mostra que empresas brasileiras reclamam das dificuldades para preencher vagas de trabalho. Esse cenário é fruto da baixa qualificação do trabalhador, o que significa que em breve teremos um apagão de mão de obra.

Enquanto a tecnologia avança a largos e repetidos passos, a qualificação do trabalhador brasileiro continua em marcha lenta, quase parada. Traduzindo, o nível de desemprego seria menor se, lá atrás, o Estado tivesse se preocupado na formação e qualificação – também requalificação – do trabalhador.

Como diz a sabedoria popular, “chorar sobre o leite derramado” em nada contribui, mas é preciso pensar a educação brasileira no longo prazo e de forma estruturante. Sem alterações de rota por motivos que não tenham origem na própria educação.

Em 2020, existiam no Brasil 179.533 escolas públicas e privadas de Educação Básica e um total de 47,3 milhões de matrículas nesse nível de ensino. O número representa uma redução de 1,2% em relação a 2019, ou seja, cerca de 579 mil matrículas a menos.

A pandemia impôs a substituição das aulas presenciais pelo ensino à distância. No Brasil, ensino remoto é privilégio de uma minoria cujas condições financeiras garantem acesso à tecnologia. Em um país onde dois terços da população recebem menos de dois salários mínimos por mês, falar em ensino à distância é um acinte.

Destaco que, além disso, tanto os professores quantos os alunos não estavam preparados para essa mudança repentina no modelo de ensino. Diante do inusitado prevaleceu o “jeitinho brasileiro”. Sem falar nas dificuldades enfrentadas pelos pais dos alunos para administrar uma situação que trouxe dificuldades das mais diversas. O resultado foi um baixo índice de aprendizagem nesse período, cujos reflexos serão sentidos mais à frente. Recuperar esse tempo perdido custará muito ao país.

As aulas presenciais serão retomadas quase que obrigatoriamente em agosto. Assim como aconteceu com o enfrentamento da pandemia, estados e municípios estão decidindo o processo de retomada das aulas presenciais, sem que o Ministério da Educação tenha se preocupado com o tema. E deveria ser uma discussão conjunta, mas não é.

Falar em falta de verbas é heresia, pois a pasta tem recursos para essa ação. Simplesmente deixou tudo à própria sorte. Nesse bojo deve-se considerar não apenas as questões educacionais, mas os protocolos sanitários para evitar a propagação do coronavírus.

Responsáveis por transferir conhecimento aos alunos e por formar cidadãos, os professores, que deveriam ter o maior salário do país, são mal remunerados. A maioria não tem oportunidade de atualização e requalificação.

Enquanto isso, a sociedade tem assistido calada a absurdas discussões políticas envolvendo a educação, como, por exemplo, escola sem partido, militarização de escolas, gênero neutro, entre tantos assuntos.

Investir em educação é garantir o amanhã, é dar dignidade de vida e de trabalho às futuras gerações. É proporcionar a todos os cidadãos as mesmas oportunidades. Isso parece óbvio, mas não é assim que o Estado trata as questões educacionais.

Disse o escritor Fernando Sabino (1923-2004): “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.”

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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