Caso o Palácio do Planalto fosse um hospício “ipsis litteris”, o presidente Jair Bolsonaro certamente já teria sido diagnosticado com inequívocos sinais de esquizofrenia, pois sua predileção por viver em um mundo à margem da realidade não deixa dúvidas a respeito do assunto.
Ciente de que seu projeto de reeleição está ameaçado, Bolsonaro tem defendido de forma irresponsável o programa Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, cujo valor do benefício, na esteira do desrespeito ao teto de gastos, será de R$ 400.
Há pouco mais de dez anos, quando cumpria mandato de deputado federal, Bolsonaro referiu-se ao Bolsa Família como “bolsa farelo”. Na ocasião, o então parlamentar afirmou que o programa de transferência de renda manteria o Partido dos Trabalhadores no poder. No mesmo ano, 2010, o agora presidente disse que o Bolsa Família era uma espécie de “moeda de troca”, cujo objetivo era comprar votos na região Nordeste.
“Se, hoje em dia, eu der R$ 10 para alguém e for acusado de que esses R$ 10 seriam para a compra de voto, eu serei cassado. Agora, o governo federal dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês, a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos. Disputar eleições num cenário desses é desanimador, é compra de votos mesmo”, afirmou Bolsonaro em agosto de 2010.
De acordo com o então parlamentar, os eleitores beneficiados pelo Bolsa Família estariam contribuindo com o “voto de cabresto”. “Cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem bolsa família, tornam-se eleitores de cabresto do PT”, disse.
Em 2011, já no governo da presidente Dilma Rousseff, Bolsonaro voltou a criticar o Bolsa Família, defendendo o fim do programa social. “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder. Nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família”, afirmou.
Em 2018, durante evento político, já como pré-candidato à Presidência, Bolsonaro disse que não se valeria da demagogia para conquistar votos. “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto”, declarou.
Com a popularidade em declínio constante e correndo o risco de não se reeleger, Bolsonaro agora recorre ao que condenou com veemência em passado não tão distante. Para justificar o festival de incoerência, o presidente alega que é inaceitável deixar 17 milhões de famílias serem corroídas pela miséria. Ou seja, um programa social só é considerado instrumento de compra de votos quando sob a égide de partidos de esquerda.
Em outro ponto desse mundo paralelo em que vive, Bolsonaro disse nesta segunda-feira (25), durante entrevista a uma emissora de rádio, que a economia brasileira “está reagindo bem”, lembrando que não é “o malvado” da vez. “Não quero aumentar o preço de nada, mas não posso interferir no mercado,” afirmou o presidente, ao justificar a decisão de não interferir na política de preços da Petrobras, que mais uma vez anunciou aumento dos preços da gasolina e diesel.
Esse universo paralelo é facilmente identificado por quem é pautado pelo boom-senso e não se deixa levar pelas falácias de um presidente mentiroso e populista. Somente alguém com deficiência grave na massa encefálica é capaz de afirmar que a economia brasileira está a reagir. Grave e preocupante, o atual momento da economia confirma matérias do UCHO.INFO, que desde antes da pandemia já afirmava que o crescimento econômico só viria depois de 2022. Com o advento da crise sanitária, nossa projeção precisou ser alongada.
Para provar que Bolsonaro cria um mundo paralelo para ludibriar ainda mais a parcela incauta da população, o Itaú Unibanco, em relatório divulgado nesta segunda-feira, passou a prever recessão em 2022, com queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A instituição financeira projeta taxa de juro em 11,25% no próximo ano, cenário que decorre do aumento de gastos do governo.
Nesse enredo desanimador, o destaque fica para o ainda ministro Paulo Guedes (Economia), que em outubro de 2020 fez críticas ao estouro do teto de gastos. À época, quando o governo começava a analisar possíveis fontes de financiamento para o novo programa social, inicialmente chamado “Renda Cidadã”, Guedes disse que furar o teto de gastos para ganhar eleição é “uma irresponsabilidade com as futuras gerações”.
Em suma, enquanto Jair Bolsonaro avança no terreno da esquizofrenia política, até porque restam poucas alternativas para enganar a opinião pública, Paulo Guedes mostra destreza ao assumir o papel de mais novo sabujo da corte. Enfim…
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