(*) Carlos Brickmann
Amanhã é o dia D: os caminhões param ou não param? Há profunda irritação dos caminhoneiros, autônomos ou donos de frota, com o Governo: as promessas do presidente Bolsonaro a eles jamais foram cumpridas. Tudo bem, não era possível cumpri-las: não há como estabelecer um piso para os fretes (sempre haverá alguém com o caminhão parado disposto a trabalhar por um pouco menos), nem subsidiar o diesel (de onde sairia o dinheiro?) ou obrigar a Petrobras a vender mais barato (seria lesar os acionistas, e é bom lembrar que a empresa negocia na Bolsa de Nova York – as indenizações lá são bem altas). Mas Bolsonaro fez as promessas. E, em todo o seu Governo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, não parou de prometer o que não podia cumprir, tanto que a categoria não o aceita mais para negociar.
Num Brasil onde a navegação de cabotagem é pequena, onde ainda não há trilhos suficientes, o caminhão é que move as mercadorias. Paralisação de caminhoneiros paralisa o país, gera desabastecimento, provoca inflação e, o que mais dói em Bolsonaro, pode prejudicar sua tentativa de reeleição.
Aparentemente, o Governo não acredita na parada dos caminhões: não mostrou nenhum esforço especial para apaziguar a categoria. Deve ter boas informações. Há entidades de caminhoneiros que se dizem revoltadas, mas acham que não é hora de parar. Enfim, o Brasil para ou não para? Num país em que até o passado é imprevisível, como prever o dia de amanhã?
A terra do vovô
O presidente Bolsonaro, aliás, nem está no Brasil: foi à Itália, participar da reunião do G-20, o grupo das vinte maiores economias do mundo. Mas só marcou um encontro – aliás, encontro protocolar, já que o presidente da Itália vai receber todos os participantes (o que não tem importância, já que o Governo italiano é chefiado pelo primeiro-ministro). Não aproveitará a presença dos dirigentes das maiores economias do mundo para conversar. Em compensação, visitou pontos turísticos de Roma, passará por Pistoia, onde o antigo cemitério, local de sepultamento dos soldados brasileiros mortos na luta contra o fascismo, foi transformado em ponto de homenagem à Força Expedicionária Brasileira, e irá a uma aldeia de Padua, Anguillara Veneta, de onde vieram seus antepassados, para ser homenageado.
Só passeio
Hoje, domingo, começa a Conferência do Clima em Glasgow, Escócia. Os dirigentes de 19 das 20 maiores economias do mundo foram direto de Roma para lá. Bolsonaro, não: preferiu ficar na Itália, junto com o Imposto Ipiranga, ministro Paulo Guedes. O clima da Itália é mais agradável que o da Escócia, a comida é melhor, o uísque que lá se consome é normalmente um escocês legítimo, só que em Glasgow o Brasil enfrentará problemas com os ambientalistas.
O general Mourão foi claro: em Glasgow, Bolsonaro, vilão do meio-ambiente, seria recebido com pedras nas mãos. As pedradas mudam de destino e serão atiradas no ministro do Meio Ambiente, que comanda a delegação brasileira. É ele que terá de explicar como é que, num mundo que reduziu em 7% a emissão de carbono, o Brasil emitiu mais 9%, e sem crescer.
A vida imita a arte
Um detalhe que vem passando despercebido no episódio em que o ator Alec Baldwin matou, com um tiro acidental, a diretora de fotografia Halyna Hutchin: o enredo do filme que estavam rodando, Rust (“Ferrugem”) trata exatamente de um tiro acidental e de suas consequências.
EUA x China 1
Os Estados Unidos deram 60 dias para a China Telecom Corporation interromper seus serviços no país. A medida foi tomada pela Comissão Federal de Comunicações, alegando o risco de que o Governo chinês possa usar a empresa para espionar ou interromper as telecomunicações nos EUA.
Importante: a medida mostra que o presidente Joe Biden, democrata, está mantendo a política de seu antecessor e adversário, Donald Trump, de limitar o acesso de empresas chinesas à tecnologia e ao mercado americano, por colocar em perigo a segurança nacional e pela cooperação dessas empresas com o Exército Vermelho. No Governo Trump, a China Telecom tinha sido proibida de operar no mercado americano de capitais.
EUA x China 2
A China Telecom e outra empresa chinesa, a China Unicom, operavam há vinte anos nos Estados Unidos. Em 2019, o Governo Trump rejeitou um pedido de operação no país de uma terceira operadora, a China Mobile.
De acordo com a Comissão Federal de Comunicações, “a propriedade e o controle da China Telecom pelo Governo chinês aumentam o risco para a segurança nacional”. Mais: “A conduta e comunicação entre a empresa e as agências governamentais dos Estados Unidos mostraram falta de franqueza, confiabilidade e credibilidade”. Os chineses informam que tomarão medidas para proteger suas empresas, mas ainda não se falou em retaliação.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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