O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pediu desculpas nesta quarta-feira (12) por ter participado de uma festa durante o primeiro confinamento britânico para conter a disseminação da Covid-19, mas ignorou as exigências da oposição de que ele renuncie do cargo por ter violado as regras que seu próprio governo havia imposto ao povo britânico.
Johnson havia convidado cerca de 100 funcionários para uma confraternização na residência oficial do governo em maio de 2020. A mensagem veio à tona nesta semana – a revelação embaraçosa pode resultar numa investigação contra o primeiro-ministro.
O pedido de desculpas de Johnson, que não chegou a admitir irregularidades, foi a tentativa do primeiro-ministro britânico de apaziguar uma onda de críticas da sociedade e de políticos após repetidas acusações de que ele e sua equipe desrespeitaram as restrições antiCovid.
O escândalo mais recente pode se tornar ponto de inflexão para um líder que enfrentou outras tempestades políticas – alguns membros do próprio Partido Conservador têm afirmado que Johnson deve renunciar ao cargo caso tenha efetivamente burlado as regras.
Johnson admite festa, mas não vê contravenção
Nesta quarta-feira, Johnson reconheceu pela primeira vez que participou de evento ao ar livre em maio de 2020, na residência oficial em Downing Street, mas classificou o encontro como confraternização de trabalho para agradecer aos funcionários por seus esforços durante a pandemia.
“Eu quero me desculpar… Em retrospectiva, eu deveria ter mandado todos de volta para dentro”, disse Johnson aos legisladores durante a sessão semanal do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns (a câmara baixa do Parlamento britânico).
O convite para o evento, que dizia para que o convidado “traga sua própria bebida” para uma reunião com “coquetéis socialmente distanciados”, foi enviado por e-mail a cerca de 100 funcionários do governo por um assessor do primeiro-ministro, embora o gabinete de Johnson diga que ele não o recebeu.
De acordo com vários veículos de comunicação, a festa acabou por contar a presença de cerca de 40 pessoas, entre elas Johnson e sua esposa, Carrie.
Opositores e aliados têm exigido que Johnson seja honesto sobre a festa, realizada quando os britânicos estavam impedidos por lei de se encontrarem com mais de uma pessoa fora de seus domicílios para conter a propagação do novo coronavírus. A festa nos jardins de Downing Street ocorreu quando milhões de pessoas estavam isoladas de familiares e amigos e até impedidos de visitar e se despedir de parentes moribundos em hospitais.
“Quão estúpido ele pensa que o povo britânico é?”
O líder do oposicionista Partido Trabalhista, Keir Starmer, disse que a sociedade britânica acredita que Johnson estava “mentindo descaradamente”, quando o primeiro-ministro alegou em outras oportunidades que ele e sua equipe seguiram as regras o tempo todo.
“Sua defesa de que ele não percebeu que estava numa festa é tão ridícula que a ser ofensiva para a opinião pública britânica”, disse Starmer. “Ele finalmente foi forçado a admitir o que todos sabiam, que quando todo o país estava fechado ele estava dando festas de bebedeira em Downing Street. Ele vai agora fazer a coisa decente e renunciar?”
Johnson não renunciou, e o pedido de desculpas desta quarta-feira lhe deu algum tempo para recuperar o controle da situação. Mas seu destino está agora nas mãos de Sue Gray, uma funcionária pública com reputação de ser enérgica e que deve divulgar um relatório de investigação até o fim do mês.
O escândalo apelidado de “partygate” aumenta uma lista crescente de divergências para Johnson, que já enfrentou acusações de que seu governo conservador desrespeitou regras da pandemia em outras ocasiões, organizando festas, encontros de Natal e farras noturnas em Downing Street. Johnson também enfrenta alegações de má conduta financeira e ética, tanto dele quanto de seu governo.
Na sessão parlamentar desta quarta-feira, o legislador trabalhista Chris Bryant disse que a alegação de Johnson de que ele não sabia que estava numa festa não era crível. “Quão estúpido o primeiro-ministro pensa que o povo britânico é?”, questionou. (Com agências internacionais)
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