(*) Marli Gonçalves
O Brasil está seriamente acometido de um certo e perigoso tipo de loucura coletiva. Não é de hoje, mas o caso se agravou muito com a pandemia que claramente abalou e balançou a cabeça de todo mundo. Claro, além de ter abalado os bolsos e de estarmos já bastante prejudicados com um insano e seus insaninhos no governo
Vamos lá. Alguém pelo amor de Deus pode dizer como é que estão se preocupando tanto com Carnaval no momento que temos tido muito mais de 150 mil contaminações por dia? Quando o número de mortes por Covid volta a crescer de forma exponencial, e já perdemos nesses tempos mais de 620 mil habitantes com essa praga? Isso os tais números conhecidos, e que a cada dia se provam mais e mais subnotificados.
Quando temos, ainda por cima, surtos de uma gripe nova, perigosa, forte, ainda sem vacina para o combate direto, derrubando as pessoas, lotando ainda mais os centros de Saúde. Tanta gente doente ao mesmo tempo que a economia se abala mais, não por lockdown, coisa que parece tão cedo ninguém mais vai ter coragem de decretar, mas porque o afastamento pelas doenças cria lacunas em todas as áreas, impossibilitando atendimentos normais? Caos no comércio, nos transportes, na produção industrial.
Pois bem, essa semana, parece programa de humor, saiu um tal protocolo para os desfiles das escolas de samba, uma vez que se fez a luz e os carnavais nas ruas foram proibidos antes, pelo menos nas principais cidades, decisão que pareceu aprovada até pelos seus próprios organizadores.
Não ria, presta atenção: a ordem será que todos os componentes das escolas usem máscaras o tempo todo; dizem que a concentração e a dispersão serão fiscalizadas para evitar aglomerações; que o quesito “harmonia”, que julga o canto, não existirá (portanto, já não será o menu completo). Tem mais: o número de integrantes das escolas deverá ser reduzido, o que parece ser o item mais fácil dada a velocidade de contaminação que vem derrubando tanta gente, “sambista” ou não. Os espectadores também serão reduzidos e obrigados a apresentar o atestado de vacinação, esse mesmo que estamos vendo sendo vendidos aos borbotões à luz do dia, falsificados, por cambistas de saúde.
Então, tá. Claro. Vai ficar todo mundo de máscara. Igual ficaram nos jogos de futebol que vimos quando os estádios foram liberados, não é mesmo? Igual estão andando nas ruas.
O país está doente. Da cabeça. Do pé. Da razão. Vivemos algum tipo de realidade paralela? Claro que entendendo o quanto o Carnaval movimenta, turismo, trabalho, o desfile das escolas de samba é um espetáculo, enorme, mas nem melhores ou piores do que outros que vêm sendo cancelados – ou melhor, adiados – por organizadores conscientes, shows, teatros, ou grandes eventos.
Com estas condições, de qualquer forma, Carnaval não será, convenhamos. Como espetáculo organizado, já que consideram tão importante, pode muito bem ser apresentado em outra data, tanto aqui como no Rio de Janeiro. Ninguém vai morrer, se me permitem a troça, com essa mudança. Ou não?
A vacinação infantil tão atrasada. A volta presencial às aulas já agora no começo do próximo mês, em busca de tentar ao menos estancar a arrasada área da Educação, essa que anúncios milionários nas tevês tentam fantasiar. A miséria e a fome grassando nas ruas. Os recursos nacionais indo pro brejo ou pela ação de criminosos acobertados ou por condições climáticas radicais que já se mostram bem reais. Inflação comendo nossos tornozelos.
Mais: ano eleitoral, farra eleitoral, estranhos caminhos políticos sendo traçados, todo dia, nas nossas fuças. Esse reality é Brasil. Os confinados somos nós, e sem prêmios no final, mesmo passando por tantas provas. O Brasil tá mesmo lascado. O mundo tá vendo. Acabaremos todos cancelados.
(*) Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de “Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também”, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.
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