(*) Waldir Maranhão
As eleições de outubro no Maranhão prometem ser acirradas, como sempre, e o preço desse cenário de disputas políticas será pago novamente por uma população abandonada e em quase eterna crise social.
Na segunda-feira (31), o senador Weverton Rocha (PDT), que integra o bloco de apoio ao governador Flávio Dino (PSB), anunciou sua candidatura ao Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual. Outra candidatura anunciada é a de Simplício Araújo, que atualmente responde pela Secretaria de Indústria e Comércio do Maranhão. Ou seja, a chama da crise política acendeu no entorno de Dino. Outras candidaturas podem ser confirmadas em breve, todas absolutamente legítimas.
Rocha, que tem mais quatro anos de mandato como senador, decidiu instalar o caos com o anúncio de uma candidatura que tem tudo para turbinar a briga das elites políticas maranhenses.
Até então apoiador de Dino, que trocou o PCdoB pelo PSB e concorrerá ao Senado, Weverton diz ter o apoio do ex-presidente Lula, o que em tese, por enquanto, imporá ao petista um palanque duplo no estado.
O atual vice-governador, Carlos Brandão, que está prestes a migrar do PSDB para o PSB, tem o compromisso público de Dino para ser o candidato natural ao governo do Maranhão em outubro.
Com a desincompatibilização do governador em 31 de março próximo, como preconizam as regras eleitorais, Brandão assumirá o comando do estado, com direito a empunhar a caneta oficial. Aliás, essa é a argumentação de Flávio Dino para convencer Weverton a desistir da disputa.
O senador pedetista, por sua vez, alega que Brandão é de direita, enquanto ele, Weverton, seria de esquerda, o que não condiz com a realidade. A essa altura dos acontecimentos. Ser de esquerda ou de direita em nada contribui para minimizar a tragédia que há décadas se abate sobre o Maranhão.
O impasse que surge no campo eleitoral coloca em evidência alguns pontos que precisam ser analisados.
O primeiro deles é que vai pelos ares o acordo político firmado em 2014 para, interrompendo o “sarneyzismo”, tirar o Maranhão do marasmo e dar à população condições de vida minimamente dignas. Com o quadro atual, todo esforço político-partidário terá servido para nada.
Outro ponto que merece análise é a dissidência que surgiu no entorno do atual governo, provocada pela falta de uma liderança capaz de lidar com interesses múltiplos e convergi-los em nome de um Maranhão melhor. Quem falhou nesse processo precisa buscar uma solução o quanto antes, pois em jogo está a vida de cada cidadão.
Desde os tempos de Vitorino Freire, o caudilho, o Maranhão vive agruras das mais variadas, deixando a população à própria sorte. Silenciar diante do caos que se apresenta é ser patrono da tragédia social que aflige todos os conterrâneos.
Em cima do palanque, mesmo que ainda de forma oficiosa, o discurso fácil induz o eleitor a erro, que sempre aposta nas promessas na esperança de dias melhores, os quais há muito não se fazem presentes.
O estamos assistindo nas últimas horas é uma briga do poder pelo poder, sem que a realidade que nos aflige seja considerada.
O engalfinhar das elites políticas não é novidade no Maranhão nem requer esforço para ser constatado.
Não é preciso ultrapassar os limites da capital, São Luís, para perceber o óbvio. Basta atravessar a Ponte São Francisco para se deparar, parcos quilômetros adiante, com o caos institucionalizado, à beira do centro histórico. Lá, maranhenses se equilibram para sobreviver em meio ao descaso das autoridades, que um dia prometeram um Maranhão para todos. Além disso, o contraste social fica evidente na “ilhinha”, onde palafitas compõem a vista do Palácio dos Leões.
Na verdade, o Maranhão é, não é de hoje, uma exclusividade de poucos, que fizeram do poder uma senha para a própria evolução patrimonial e econômica.
Não é de hoje que o Maranhão frequenta os piores índices sociais do país, sem que qualquer medida tenha sido tomada de maneira efetiva para reverter uma tragédia que cresceu ainda mais por causa da pandemia do coronavírus.
Todo homem público do Maranhão tem o dever cívico e moral de trabalhar por um projeto político que resgate a população da penúria. Não se pode concordar com uma cizânia política, escorada em interesses questionáveis, que empurra o nosso povo para o fundo do poço.
Entre promessas ao vento e realizações de fato há uma sensível diferença. E o Maranhão carece de realizações urgentes e objetivas, sem manobras para atender a interesses aqui e acolá. Como disse o dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), “contrabalançar promessas com promessas é estar pesando o nada”. E nada o povo já tem!
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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