(*) Carlos Brickmann
Há quem tema que Bolsonaro, se derrotado na tentativa de reeleição, tente um golpe, alegando que as urnas foram fraudadas, que um esquema ilegal foi preparado para impedi-lo de vencer, qualquer coisa. Pode ser. Mas por que esperaria um momento em que os adversários estarão preparados? O que impede um golpista de dar o golpe no melhor momento para ele, não na hora em que esperam que saia da legalidade?
Bolsonaro já fez o possível para agradar a área de segurança, já disse que as Forças Armadas detectaram sabe-se lá quantos milhares de falhas na urna, que vivemos a “ditadura da caneta”, comandada pelo Poder Judiciário, que não há diferença entre essa tal ditadura e as de Cuba e Venezuela. Disse mais: “Acredito em Deus e nos próximos dias acontecerá algo que vai nos salvar”.
Em parte, tem razão: em Cuba, Fidel Castro e seu irmão Raúl só usavam uniformes militares, embora militares não fossem; na Venezuela, houve farta distribuição à turma das Forças Armadas de bons empregos no governo e nas estatais. Em parte, viola o Segundo Mandamento, ao usar Seu Santo Nome em vão. E atribui ao Senhor planos que talvez sejam exclusivamente seus.
Muitos acham que Bolsonaro late, mas não morde, zurra, mas não dá coice. Outros confiam em declarações de generais (que devem a ele seus cargos) de que seguirão fielmente a Constituição – e por que não? Forças Armadas são uma instituição do Estado, não do governo. Mas não se pode cochilar.
Moscou na linha
A visita de Bolsonaro a Putin, em Moscou, certamente terá suas situações ridículas. Certamente terá também aquele grupo de sempre que não tem o que fazer, mas adora viajar, é chegado a uma boca livre e não dispensa uma diária. Mas parece haver motivos importantes para este encontro. Para Putin, é importante que a Rússia tenha bons contatos na América Latina; e a Rússia precisa diversificar sua pauta de exportações, hoje baseada em petróleo e gás natural. Os russos dominam uma tecnologia que o Brasil ambiciona: a dos submarinos a propulsão nuclear (embora com armas convencionais). Quando o Brasil fez o acordo com a França, só havia no mundo cinco países com submarinos nucleares: os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil seria o sexto. De lá para cá, a Austrália comprou submarinos nucleares americanos, mas o Brasil pode ser o sétimo.
De Paris a Moscou
O acordo com a França deu uma emperrada (o presidente Macron não tem a menor vontade de colaborar com Bolsonaro; o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, cérebro do programa nuclear brasileiro, foi preso por ordem do juiz Sérgio Moro), e as coisas não mais andaram. Parou o programa nuclear inteiro, tanto que Angra 3, iniciada no regime militar, não foi ainda concluída. A KWU alemã, cuja tecnologia foi usada nas Angras 2 e 3, foi vendida à Thomson francesa. Sobram Rússia e China. Viável, só a Rússia.
As novidades
A Alemanha está desativando suas usinas nucleares. A França resolveu investir pesado – a energia nuclear foi declarada limpa pela Europa Unida. A hora é boa: de acordo com os especialistas da norueguesa Rystad Energy, citada pelo site Petronotícias a tensão entre Rússia e Ucrânia põe em risco 30% das importações de gás da Europa. E os estoques disponíveis são os menores dos últimos cinco anos. Para quem tem tecnologia de energia nuclear para fins pacíficos, é a hora de faturar com ela.
Viagens frias
Há viagens e viagens. O Ministério Público pediu investigações sobre a viagem do secretário da Cultura, Mário Frias, aos EUA. Frias viajou levando um assessor, com o objetivo declarado de conhecer um projeto multimídia do ex-lutador Renzo Gracie. Foram R$ 52 mil de dinheiro público para duas passagens na classe executiva, mais R$ 12.800,00 de diárias para cada um, mais seguro. Despesa, só com passagem, diárias e seguro: R$ 78.200,00, “verdadeira afronta ao princípio da moralidade administrativa”, afirma o subprocurador Lucas Furtado.
Duas perguntas: se era apenas para conhecer um projeto, por que não usar a Internet? E, se Renzo Gracie queria apresentar seu projeto, e não queria usar a Internet, por que não veio ele ao Brasil?
Recordação
A PM do Rio de Janeiro entrou na favela de Vila Cruzeiro para prender Chico Bento (apelido de Adriano Souza Freitas, apontado pelos policiais como traficante e parte da liderança do grupo criminoso Comando Vermelho). A operação fechou 17 escolas, impedindo que cinco mil crianças fossem às aulas; matou oito pessoas, que teriam resistido, armadas de fuzis, à entrada dos policiais na favela; e não achou o Chico Bento.
É interessante lembrar que, no governo Temer, houve intervenção militar no Rio, de quase um ano. O interventor, general Braga Netto, disse que o trabalho foi positivo. Pois é. Ele, por exemplo, hoje é ministro da Defesa.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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