(*) Carlos Brickmann
O presidente Bolsonaro atravessou metade do mundo para se solidarizar com o indefensável Putin. O vice-presidente Mourão se opôs: ele, general de quatro estrelas, acha que a Rússia tem de ser contida à força.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, que inclui os EUA, tem poder para derrotar a Rússia. Só há um problema: o poderio russo, que inclui foguetes intercontinentais e bombas de hidrogênio, não é suficiente para ganhar a guerra, mas pode destruir seus inimigos. A Rússia, como os Estados Unidos, tem uma quantidade de armas capaz de destruir o mundo mais de uma vez – o nome militar disso é “overkill”, exagero de mortes. Como disse Albert Einstein, a Terceira Guerra Mundial seria travada com as armas nucleares. Já a Quarta Guerra seria travada com paus e pedras, tudo o que teria restado no mundo após o conflito atômico.
Bolsonaro falou besteira: ao se solidarizar com Putin, pôs o Brasil no mesmo balaio de China, Venezuela e Cuba, regimes que odeia. Para agradar a Putin, seu tipo inesquecível, autoritário, metido a machão, que consegue mandar no Parlamento e na Justiça, afastou-se politicamente do Ocidente e hoje não conseguiria nem badalar seu também ídolo Donald Trump. Mourão, que há tempos se desentendeu com Bolsonaro, não aproveitou a chance de defender a única saída viável, a de busca da paz. Não explicou, também, como conter a Rússia à força.
Quem colocaria o guizo no pescoço do gato?
No dia de hoje
Putin, por enquanto, dá um baile nos líderes ocidentais. Preparou-se com calma para a crise, reforçando as reservas russas de divisas e fazendo da Rússia um dos maiores fornecedores de gás natural e petróleo para a Europa. Já a OTAN acompanhou por quatro meses a concentração de tropas e nada fez. Mas, caso a guerra se prolongue, as sanções ocidentais talvez tenham efeito: bloqueio de operações financeiras, apreensão de navios nos portos, proibição de vendas essenciais às empresas russas. Nada decisivo, mas obriga os agressores a desviar a atenção da guerra e a cuidar da própria vida.
Por que se luta
Além de problemas políticos e ideológicos, há motivos econômicos para ocupar a Ucrânia. O país tem grandes reservas de urânio, titânio, manganês, ferro, mercúrio, xisto (do qual se extrai petróleo e gás), carvão. Suas terras são extremamente férteis – estima-se que possam garantir alimentação a 600 milhões de pessoas. A capacidade industrial é grande, até mesmo para lançar satélites. Se o motivo da invasão for econômico, o prêmio é grande.
O retrato de agora
Faltam dez meses para as eleições, e isso é muito tempo. Até uma semana antes das eleições de 1988 em São Paulo, Maluf era favorito, João Mellão era o segundo, Erundina estava em quarto. Ela se elegeu. Tancredo ganhou, na véspera da posse precisou ser operado e Sarney foi o presidente. Enfim, a fotografia de hoje mostra Lula muito próximo de ser eleito no primeiro turno, com mais votos do que todos os adversários somados. A pesquisa é do Ipespe e mostra Lula com 43%, contra 26% de Bolsonaro, 8% de Moro, 7% de Ciro e os outros bem abaixo. Há outras indicações ruins para Bolsonaro: quase 70% acham que a política econômica está errada; no segundo turno, perderia para Ciro, Moro e até Doria – no caso, um empate técnico, mas a contagem é Doria 39 x Bolsonaro 36.
E, antes que resolvam implicar, sei que houve muitas pesquisas erradas na história. Truman iria perder de Thomas Dewey, por exemplo, e ganhou. Mas, se pesquisa não serve para nada, por que empresas privadas gastam tanto pesquisando a aceitação de seus produtos?
Ruim para Bolsonaro 1
O Instituto Brasileiro de Mineração, Ibram, que reúne as treze maiores mineradoras do país, inclusive a Vale, passa agora a ser dirigido por Raul Jungmann, que foi ministro da Reforma Agrária de Fernando Henrique e, com Michel Temer, ministro da Defesa e ministro extraordinário da Segurança Pública. Bolsonaro não gosta dele, embora tenha sido seu colega na Câmara Federal. E, ao que se saiba, é correspondido.
Ruim para Bolsonaro 2
Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, que o aprecia a ponto de querer transformá-lo em governador de São Paulo (ele pretende se candidatar, assim que descobrir onde fica o estado), foi apanhado numa gravação constrangedora: diz a caminhoneiros que iria “dar um tempo em fiscalizações desnecessárias”. Entre elas, aquele perigosíssimo monstrengo que é o caminhão arqueado, em que a traseira fica muito mais alta que a dianteira e que é inseguro a qualquer velocidade.
Tarcísio, depois de contar que vai compor um grupo de trabalho com Silvinei Vasques, diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, “para eliminar o que está enchendo o saco, gerando autuação e não contribui para a segurança”, revela que a fiscalização será seletiva. O Ministério Público Federal já abriu inquérito sobre o caso.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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