Reviravolta na política do Maranhão joga no terreno da incerteza o que era dado como certo

 
(*) Waldir Maranhão

Apesar de muitos alegarem desinteresse, a política é uma atividade empírica que requer cuidado no trato das coisas. É um terreno onde o pragmatismo dá as cartas e bom-senso é porto seguro.

Há dias, divulguei nas redes sociais que no Maranhão a disputa por uma vaga no Senado Federal não se daria por W.O. (abreviação de “walkover”, que em tradução livre significa “vitória fácil”).

Não tenho vocação para prever o futuro, mas ao analisar o cenário político maranhense ousei fazer tal afirmação.

Ex-governador do Maranhão, Flávio Dino deixou o Palácio dos Leões para ser candidato ao Senado pelo PSB. Acreditava ser uma tarefa fácil retornar ao Congresso Nacional, desta vez como integrante da Câmara Alta.

O cientista político e escritor americano John Kenneth Galbraith (1908-2006) disse certa vez que “nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.”

Em pleno funcionamento, minha memória não impede que recorde das promessas de Dino por ocasião de sua primeira eleição para governador. Prometeu aos maranhenses aquilo que sabia ser impossível de cumprir em tão pouco tempo. Isso porque a tragédia social no Maranhão é muito maior do que está diante dos nossos olhos.

Flávio Dino não cumpriu as promessas no primeiro mandato de governador, muito menos as do segundo. Aliás, o Maranhão regrediu socialmente sob o comando do agora pré-candidato ao Senado.

Reconhecer os erros cometidos é tarefa para poucos, exclusiva de quem é dotado de coragem e desprendimento. Reconheço ter errado quando apoiei Flávio Dino, colaborando para sua chegada ao governo do Estado. Aos maranhenses peço desculpas pelo equívoco, mas sempre é tempo de se redimir e buscar o caminho do acerto.

No tabuleiro político do Maranhão, estado cuja pobreza clama por homens públicos dispostos a mudar o cenário, a eleição de Dino ao Senado era dada como favas contadas.

Na política os cenários mudam da noite para o dia, num piscar de olhos. Ex-governador de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto é autor de célebre frase: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.”

No Maranhão não é diferente. A política muda de forma rápida, especialmente em um cenário de ebulição eleitoral que marca as pré-campanhas.

Agora filiado ao PTB, depois de ter deixado o PSDB, o senador Roberto Rocha havia se preparado para concorrer ao governo do Maranhão. Com as mudanças ocorridas no xadrez político local, alterou os planos e decidiu tentar a reeleição.

Na segunda-feira, 2 de maio, Rocha conseguiu o que pode-se chamar de “jogada de mestre”. Para levar adiante seu projeto de conquistar mais um mandato de senador, catalisou o apoio de ao menos oito partidos: PDT, PL, PSD, PROS, PMN, PSC, Republicanos e Agir36. Por enquanto! Além disso, merece destaque a participação do presidente da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM), Erlanio Xavier, que aumenta a capilaridade da candidatura de Roberto Rocha.

Com esse novo desenho eleitoral, a candidatura de Flávio Dino ao Senado sofre considerável revés. Não será surpresa se em outubro próximo o ex-governador tropeçar nas urnas.

Até o momento, Roberto Rocha poderá contar com pelo menos três palanques de candidatos ao governo estadual: Weverton Rocha (PDT), Edivaldo Holanda Jr. (PSD) e Lahesio Bonfim (PSC). Em uma disputa por cargo majoritário, como é o de senador da República, palanques eleitorais têm peso considerável.

Por outro lado, com a desidratação política que ronda a candidatura de Flávio Dino ao Senado, a reeleição do governador Carlos Brandão (PSB) corre risco.

Política é uma atividade marcada por minúcias e que exige dedicação permanente. Além disso, abandonar aliados do passado pode ser um movimento fatal.

Talvez seja tarde demais para Flávio Dino tentar reverter um quadro desfavorável em termos eleitorais. Na política, como disse Magalhães Pinto, tudo muda de forma rápida. Porém, creio que a certeza da vitória fez com que Dino se perdesse na linha do tempo.

Como disse o escritor e poeta italiano Cesare Pavese (1908-1950), “a política é a arte do possível”.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.