Traidor, Moro mostra sua porção “Don Quixote de camelô” e tenta conquistar votos de bolsonaristas

(Dida Sampaio - Estadão)

 
Um dos mais importantes estados da federação, o Paraná foi considerado durante longos como praça-teste de produtos antes do lançamento em âmbito nacional. Isso porque o crivo dos paranaenses, em especial dos curitibanos, era tido como rígido e confiável pelo mercado, ou seja, o que era aprovado no Paraná certamente seria bem avaliado em outras regiões do País.

À margem desse status que durou décadas, o Paraná parece viver um momento questionável quando o assunto é a escolha do político que representará o estado no Senado. Ex-juiz federal responsável pelas ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro é candidato ao Senado pelo União Brasil, partido que resultou da fusão do Democratas com o PSL.

Incialmente, Moro seria candidato à Presidência da República pelo Podemos e contou com o apoio e o empenho do senador Alvaro Dias, mas acabou convencido por Luciano Bivar, presidente do União Brasil, a mudar de legenda. O ex-juiz tinha a expectativa de ser o presidenciável do novo partido, mas viu seu projeto político desmoronar em pouquíssimo tempo.

Com o objetivo de conquistar um mandato eletivo, Sérgio Moro transferiu o domicílio eleitoral para São Paulo, informando à Justiça Eleitoral o endereço de um hotel da capital paulista como sendo o de sua residência. Para quem ousou julgar e condenar na condição de juiz, a fracassada manobra de Moro, que pretendia concorrer a uma cadeira no Congresso Nacional, causa espécie. O ex-ministro da Justiça foi obrigado a se contentar com uma candidatura pelo Paraná, local de origem de seu domicílio eleitoral.

Para dar continuidade ao projeto de poder que começou ainda na Lava-Jato, Sérgio Moro agora disputa a preferência dos eleitores paranaenses com Alvaro Dias, seu padrinho político por ocasião de filiação ao Podemos.

Causa estranheza o fato de os paranaenses declararem voto em Moro, a ponto de o ex-juiz estar em segundo lugar na corrida ao Senado da República pelo estado sulista. Isso porque ultrapassa os limites da ousadia alguém que desrespeitou a lei de forma flagrante no âmbito da Lava-Jato concorrer a um cargo no Legislativo federal. Em suma, quem desrespeita a lei não pode integrar uma Casa fazedora de leis.

 
Que nove entre dez políticos brasileiros são movidos pela incoerência todos sabem, mas Sérgio Moro abusa da capacidade de raciocínio da população. Não bastasse a traição cometida contra o senador Alvaro Dias, que busca a reeleição, o ex-juiz agora acena ao presidente Jair Bolsonaro em busca de votos.

Sérgio Moro divulgou nas redes sociais um vídeo de campanha sobre apoio a presidenciáveis, no qual acena a Bolsonaro e afirma que “jamais estará ao lado de Lula e do PT”.

No vídeo, o ex-juiz não cita o nome de Soraya Thronicke, candidata do seu partido à Presidência da República, mas diz ter o “mesmo adversário” que Bolsonaro, na tentativa de conquistar os eleitores antipetista e bolsonarista do Paraná.

Moro deixou o cargo de juiz em 2019 para integrar o governo Bolsonaro; em 2020, abandonou o Ministério da Justiça “atirando” contra o presidente, a quem acusou de interferência na Polícia Federal. Desde então, Moro é chamado de “traidor” por bolsonaristas. Em 2021, o ex-juiz foi considerado suspeito e teve anulados pelo STF julgamentos envolvendo o ex-presidente Lula na Lava-Jato.

Resumindo, Sérgio Moro, que aprendeu com rapidez o jeito rasteiro de fazer política, é o que se conhece como “mais do mesmo”. Talvez o ex-juiz seja pior do que isso, pois um candidato que, em nome de votos, bajula um aprendiz de ditador que anteriormente foi alvo de sua fúria discursiva, não tem moral para ser candidato. Apesar que o Brasil continua sendo o “país da piada pronta”, como prega o jornalista José Simão (Folha e BandNews FM).

O Paraná precisa mostrar ao Brasil que sabe separar o joio do trigo, que sabe escolher, principalmente diante das urnas, e não pode eleger senador quem até recentemente renegou o próprio estado.


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