Israel ordena “cerco total” à Faixa de Gaza; invasão terrestre é questão de tempo

 
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, anunciou nesta segunda-feira (9) um “cerco total” à Faixa de Gaza, o enclave palestino de onde partiram os combatentes do Hamas que atacaram posições israelenses no último sábado.

De acordo com Gallant, Israel suspenderá o fornecimento de água, eletricidade, alimentos e combustível para Gaza, onde vivem cerca de 2 milhões de palestinos, que há quinze anos sofrem as consequências de um severo bloqueio econômico e de circulação há.

“Ordenei um cerco total a Gaza. Estamos lutando contra animais e agiremos de acordo”, disse Gallant. No domingo, ao visitar uma das cidades israelenses atacadas pelo Hamas, o ministro já havia advertido que que “o preço que a Faixa de Gaza pagará será muito pesado”.

No domingo (8), o gabinete de Segurança da Israel declarou formalmente estado de guerra, o que, segundo o governo, permitirá “medidas militares abrangentes”.

Nesta segunda-feira, o Hamas continuou atacando o território de Israel pelo ar. Foguetes lançados pelo grupo atingiram cidades como Jerusalém e Tel Aviv. Um foguete explodiu perto do Aeroporto Internacional Ben Gurion.

 
Invasão terrestre

A Faixa de Gaza, controlada com mão de ferro pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, já vem sendo alvo de pesados ataques aéreos israelenses desde sábado. Segundo as autoridades de saúde locais, mais de 500 palestinos já foram mortos nesses ataques aéreos.

No momento, cresce entre setores do governo israelense a pressão por uma invasão por terra da Faixa de Gaza. Israel convocou 300 mil reservistas após os ataques de sábado. Tanques foram deslocados para as imediações do enclave palestino.

No final de semana, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que prometeu “vingar” os massacres dos últimos dias, advertiu aos palestinos para que deixem as áreas de Gaza onde o Hamas opera. Contudo, com a Faixa de Gaza isolada e cercada, moradores alegam não ter para onde fugir.

Até a manhã desta segunda-feira, 123 mil palestinos haviam deixado suas casas na Faixa de Gaza, de acordo com o Gabinete de Coordenação para os Assuntos Humanitários Organização das Nações Unidas (ONU). Destas, cerca de 73 mil procuraram abrigo em 64 escolas.

“Qualquer coisa menos do que uma invasão será um grave erro. Precisamos conquistar Gaza, ou pelo menos a maior parte dela, e destruir o Hamas. Não podemos continuar a fazer as mesmas coisas que fizemos antes e que não estão funcionando”, disse Amir Avivi, ex-vice-comandante da Divisão de Gaza das Forças Armadas de Israel.

As tropas israelenses ocuparam Gaza por quase quatro décadas, entre os anos 1960 e 2000. Em 2005, Israel retirou de forma unilateral suas tropas que estavam posicionadas no enclave. Pouco depois, a Faixa de Gaza foi dominada pelo Hamas, que expulsou políticos palestinos moderados e impôs um regime fundamentalista, passando a promover ataques regulares a Israel.

 
Matérias relacionadas
. Ataque maciço do Hamas contra Israel deixa quase 300 mortos e centenas de feridos
. Líderes ocidentais condenam ataque do Hamas contra Israel
. O surpreendente ataque do Hamas e a miopia torpe e conveniente da imprensa global

Desde 2007, Israel e Egito – que também se opõe ao Hamas – impõem severo bloqueio econômico e de circulação a Gaza, que experimenta veloz e trágico empobrecimento da população.

No entanto, a tomada de dezenas de reféns israelenses pelo Hamas, incluindo mulheres e idosos, levados a Gaza pelos combatentes do Hamas, deve dificultar os planos de invasão terrestre. Um porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, disse nesta segunda-feira que os bombardeios de Israel à Faixa de Gaza já mataram quatro reféns israelenses.

Uma invasão por terra também levanta o temor de mais um “banho de sangue”. A Faixa de Gaza é uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, com cerca de 2 milhões de habitantes vivendo em um território de 360 km².

Erro histórico

O surpreendente ataque do Hamas decorreu principalmente do não reconhecimento do Estado da Palestina, cuja demora beira passa de 75 anos. Quando o Estado de Israel foi criado pela ONU, em 1948, por sugestão de autoridades britânicas, o Estado da Palestina deveria ter sido criado simultaneamente, o que não ocorreu.

Desde então, israelenses expulsam os palestinos de duas terras, movimento que cresceu nos últimos anos com o projeto de Tel Aviv de criar um Grade Israel, como bem lembrou Salem Nasser – doutor em Direito Internacional pela USP e professor da Escola de Direito de São Paulo (FGV) – em excelente artigo publicado nesta segunda-feira.

Não obstante, os israelenses pretendem tomar Jerusalém, expulsando da cidade cristão e muçulmanos. Como enfatizou o editor do UCHO.INFO em artigo publicado no último sábado (7), Jerusalém deveria ser território neutro, uma vez que abriga importantes símbolos religiosos para católicos, muçulmanos e judeus.

As autoridades israelenses, em especial as que integram o gabinete ultradireitista de Netanyahu, não se preocupam em esconder o plano de expulsar os palestinos da região. (Com Deutsche Welle)


Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.