Denúncia do UCHO.INFO possibilitou investigação sobre falsos bancos digitais e o crime organizado

 
Investigações policiais descobriram o uso de bancos digitais por facções criminosas, que se valeram das instituições para lavar o dinheiro proveniente de fraudes financeiras e do tráfico de drogas, entre outros crimes.

Uma recente investigação revelou que a Cash Back Turismo e Serviços Empresariais, registrada em nome de Lucas de Souza Teixeira, morador da favela de Heliópolis, a maior da capital paulista, movimentou R$ 10 bilhões em pouco mais de dois anos.

O caso envolvendo a Cash Back foi desvendado a partir de investigação sobre esquema de fraude e lavagem de dinheiro da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). Oito acusados foram denunciados porque montaram uma organização criminosa, por meio de alterações em contratos sociais de pessoas jurídicas nas quais incluíam nos quadros societários “laranjas”, modificavam o endereço das empresas, o objeto social e majoravam o capital social. Esse esquema criminoso tornou aptas empresas que foram utilizadas na prática de estelionatos e fraudes, dando-as aparência de empresas idôneas atuantes no mercado financeiro.

Manobra criminosa

Foi na esteira desse modus operandi criminoso que uma empresa de moda foi transformada em “Team Work Participações Ltda”, que operava sob o nome fantasia de 360 Bank. “A partir de então, a organização criminosa passou a utilizar o 360 BANK para atuar no mercado financeiro, captando clientes/vítimas que, na esperança de obterem retorno econômico em seus investimentos, transferiram suas economias para o grupo criminoso”, afirmava a denúncia do promotor Danilo Orlando Pugliesi, de janeiro de 2023.

Entre as dezenas de vítimas do grupo estava Maristela Rodrigues Bagnatori, que, de acordo com a acusação, foi convencida por um “representante do 360 Bank a fazer um investimento de R$ 265 mil com os acusados por meio de uma das empresas do grupo, a Plattion Assessoria e Consultoria”.

O delegado Marcos Galli Casseb, do 30º Distrito Policial da cidade de São Paulo, localizado no bairro do Tatuapé, cruzou a informação dessa investigação com os dados de um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) do COAF e verificou que as empresas do grupo 360 Bank haviam usado a empresa Cash Back para comprar ativos com o dinheiro de fraudes financeiras.

Denúncia às autoridades

Em outubro de 2020, o editor do UCHO.INFO informou a um experiente delegado da Polícia Civil paulista, há anos atuando na Baixada Santista, que o estilo de um homem que se apresentava como dono do 360 Bank era estranho e ostensivo. Na ocasião, o delegado informou que repassaria os dados às Polícia Federal.

O falso banqueiro proporcionava festas em mansão localizada em praia famosa da cidade de Guarujá, com direito a artistas e celebridades, além de convidados cativos. Um dos destaques das tais festas era um conhecido cantor de forró, que se apresentava à beira da piscina.

A ousadia do grupo era tamanha, que o líder do grupo 360 Bank e seus sequazes compraram um jato por US$ 10 milhões. A sensação de impunidade fez com que o negócio fosse anunciado sem cerimônia, com direito a fotos ao lado da aeronave.

O tal banqueiro passava boa parte na mansão à beira-mar, que tinha sete suítes, piscina, sauna, jardim e outras mordomias, mas um detalhe chamou a atenção: o imóvel era alugado. Enquanto isso, ele e a família moravam na cidade de São Paulo em um pequeno apartamento alugado de dois quartos, localizado no bairro da Liberdade, na região central.

O falso banqueiro e a esposa têm dois filhos, que estudavam em tradicional colégio católico da cidade. Outro detalhe acendeu a luz de alerta: à época, várias mensalidades escolares estavam pendentes de pagamento. Até o tratamento dentário dos filhos do casal estava em atraso. Para quem se apresentava como dono de banco, tais pendências apontavam na direção do ilícito.

Endereço de fachada e artistas

O 360 Bank, que fez várias vítimas, cujas reclamações estão disponíveis na internet, funcionava na Avenida Paulista, a principal via da cidade de São Paulo. Aos incautos eram oferecidas vantagens financeiras, como, por exemplo, cartão de crédito e remuneração atraente em investimentos.

O pretenso banqueiro, que desapareceu desde que o golpe foi descoberto, não economizava esforços para ser fotografado ao lado de artistas, imagens que imediatamente eram publicadas nas redes sociais. Essa prática servia para dar ares de credibilidade às atividades do 360 Bank.

Prisões e bloqueio de dinheiro

No último dia 28, a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a Operação Concierge. Foram presas 14 pessoas e cumpridos mandados de busca e apreensão em quinze cidades de São Paulo e Minas Gerais.

A PF informou que a quadrilha movimentou R$ 7,5 bilhões em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, criando bancos digitais não autorizados pelo Banco Central para viabilizar fraudes financeiras. Entre os presos estão sócios dos respectivos bancos.

A Justiça autorizou o bloqueio de R$ 850 milhões em contas associadas à organização criminosa. Os agentes afirmaram haver indícios de que um dos bancos digitais envolvidos no esquema tenha atuado para blindar o dinheiro do tráfico de drogas do PCC.


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