O oportunismo e a dicotomia permanecem emoldurando os discursos políticos, como os dos novos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), respectivamente, eleitos no último sábado (1º).
Após a eleição, Alcolumbre, que já presidiu o Senado, disse que o compromisso da Casa legislativa é com os brasileiros. “Nosso compromisso enquanto instituição, o sentido de nossos mandatos, é buscar atender aos anseios do cidadão”, declarou.
Quem ouviu as palavras do novo presidente do Senado acreditou que a política brasileira entrou em nova fase, o que não é verdade. Alcolumbre abusa do populismo barato quando afirma que o compromisso do Senado é “atender aos anseios do cidadão”.
Qualquer brasileiro, do menos ao mais politizado, repudia o chamado “orçamento secreto”, algo que Alcolumbre e Motta defendem com fervor. A parcela da população dotada de coerência critica a postura do Legislativo diante do Judiciário, que com esforço faz valer a Constituição Federal, que nos últimos anos foi alvo de seguidas tentativas de “atropelamento”.
Hugo Motta, por sua vez, objetivando apartar o apadrinhamento político do ex-deputado Eduardo Cunha – condenado e preso no âmbito do escândalo do Petrolão, disse que o brasileiro não “quer discórdia, quer emprego”.
“O povo brasileiro não quer discórdia, quer emprego. O povo brasileiro não quer luta pelo poder, quer que os poderes lutem por ele. O povo brasileiro não quer a divisão da ideologia, mas a multiplicação no seu dia a dia. Não temos tempo para errar, chega de zero a zero. O povo brasileiro quer resultado, quer emprego, quer melhora de vida, educação melhor para os seus filhos, quer segurança, um futuro melhor, um Brasil melhor”, declarou.
O discurso politicamente correto de Hugo Motta convence os incautos, mas quem conhece minimamente a realidade política em todos os seus espectros sabe que esse repertório não se sustenta.
Falar em criação de empregos é jogar fumaça sobre a realidade do País. O mercado financeiro, que lucra com a Selic nas alturas, aposta na alta da inflação por conta também da geração de empregos. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que se pauta pela bússola tendenciosa do mercado, usa o mesmo argumento para elevar a taxa básica de juro.
Com a elevação da Selic, investir na atividade produtiva não compensa financeiramente, pois títulos do governo rendem mais com a taxa de juro em patamares altos.
Sem investimento na produção não há geração de emprego, com a Selic nas alturas o crédito ao consumidor fica mais caro e o consumo cai. Isso significa que o Brasil vive aquilo que a sabedoria popular tão bem define como “o cachorro correndo atrás do próprio rabo”.
As bilionárias emendas parlamentares – secretas ou não, via PIX ou não – tiram do governo a capacidade de investimento em setores prioritários para a população. O Congresso avançou sem cerimônia sobre o orçamento federal, chamando para si a prerrogativa de executá-lo, sem a responsabilidade inerente ao Executivo.
Em relação à discórdia citada pelo presidente da Câmara, a oposição trabalha para inviabilizar o governo de todas as maneiras, com o estrito objetivo de voltar ao poder central.
Resumindo, discursos populistas à parte, tudo ficará no mesmo lugar em que sempre esteve. Traduzindo para o bom idioma da velha Pindorama, mudaram apenas as moscas.
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