(*) Gilmar Corrêa –
Contagem regressiva. Vou soltar foguetes. Lula da Silva deixará o Palácio do Planalto pela porta da frente. Confesso que vou ficar com saudade. Eu e 80% dos brasileiros, segundo as pesquisas de opinião.
Minha saudade não serão provocadas pelo populismo caudilhesco do Lulismo. Ela tem origem em suas frases, nas suas mentiras e nas galhofas. Admito que Lula da Silva fez-me rir nesses oito anos. É um cara bem humorado e por isso a Presidência da República não será a mesma. Lula da Silva tem a capacidade de falar as maiores barbaridades e fazer a gente rir.
Vou sentir saudades das solenidades e dos palanques que nunca deixaram o viés político-eleitoreiro. Lula da Silva inovou ao passear pelo tablado como animador de programa de auditório.
É preciso admitir que suas falas nunca foram monótonas. Para arrancar a atenção e gargalhadas, tirava até ministro pra palito. Certa vez, disse que nunca via Hélio Costa como ministro ou senador. Enxergava nele um personagem das velhas matérias sobre saúde no Fantástico. Pensando bem, Helio Costa nunca perdeu essa marca, a marca de um repórter da Rede Globo em Nova Iorque.
Lula da Silva é um piadista. Acabou assumindo esse papel depois que tentou expulsar do Brasil o correspondente do “New YorK Times” Larry Rother. Como se sabe, Rother escreveu sobre os hábitos etílicos do presidente. Botou o dedo na ferida, coisa que a imprensa local não fazia, como ainda costuma esconder.
No final, houve o bom senso. Rother pode saborear, sossegado, a legítima caipirinha brasileira em terras tupiniquins. Sugiro uma rodada entre os dois para ver onde está a piada de toda essa história.
Lula da Silva gosta de beber. Nem ele mais nega esse vício. Por conta do álcool, o presidente teria abusado nos discursos, motivo de nossas risadas.
Lula da Silva, segundo sua própria linguagem, dará uma pequena saidinha de quatro anos. Sonha em voltar ao Palácio do Planalto nas eleições de 2014, ano da Copa do Mundo. Sorte nossa o presidente-metalúrgico não estar no exercício da Presidência. Pé frio como é reconhecido, seria capaz de escantear o desejo de botar a mão no caneco em pleno Maracanã.
O nosso presidente, daqui a mais alguns dias, vai deixar saudades. Seja pelas suas verborragias, seja pela falta de zelo com o protocolo presidencial ou pela sua simpatia. Sim, Lula da Silva é um cara simpático. Boa conversa. Tanto isso é verdade que não há ninguém na oposição que não considere sua habilidade em articular, em vencer obstáculo. Enfim, um político eficiente em bater nas costas e costurar acordos.
Essa capacidade revela outra habilidade do futuro ex-presidente: a de varrer para debaixo do tapete os piores exemplos da República. Até hoje Lula da Silva garante que o “mensalão” não existiu. E diz que vai provar isso. Antes, no primeiro mandato, afirmava que nunca soube das falcatruas costuradas na Casa Civil para pagar deputados aliados e do próprio partido, o PT.
Vou sentir saudade desse companheiro que ao longo de 25 anos criticou os absurdos da desigualdade, a burguesia encastelada e da falta de decisão em resolver problemas concretos da Terra de Macunaíma.
Sai depois de oito anos no poder sem mexer em reformas estruturantes, mas, mesmo assim, em alta com o eleitorado. É preciso tirar o chapéu para esse brasileiro simpático que chora em todas as horas, que agrada banqueiros e favelados.
Lula, definitivamente, vai deixar saudades. Vai um brinde, aí?