Minuto de silêncio – Morreu na manhã desta sexta-feira (24), em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, 72 anos. Internado nos Hospital Sírio-Libanês para tratamento de câncer de próstata, Quércia foi obrigado a desistir de sua candidatura ao Senado federal, abrindo frente para a expressiva vitória do tucano Aloysio Nunes Ferreira nas urnas.
Natural de Pedregulho, no interior de São Paulo, Quércia nasceu em 18 de agosto de 1938. Empresário de sucesso, Orestes Quércia começou a carreira política como vereador. Deputado estadual, senador, vice-governador e governador do Estado de São Paulo, Quércia esculpiu sua trajetória política dentro do PMDB, muitas vezes fazendo oposição aos ditames da direção nacional do partido. A mais recente contraposição se deu na eleição presidencial, quando o ex-governador apoiou o tucano José Serra.
A influência política de Orestes Quércia surgiu nas décadas de 70 e 80, mas foi nas reticências de uma ideia fixa que o político viu crescer o seu poder dentro do partido. Foi dele a iniciativa de criar a frente municipalista, movimento que só agora os políticos reconhecem como sendo a base para qualquer sucesso eleitoral. Até porque, é nas mais diminutas bases que estão abrigadas as chances políticas de um cidadão.
Eleito vice-governador do Estado de São Paulo na chapa de André Franco Montoro, Orestes Quércia chegou ao comando da mais rica e importante unidade da federação ao derrotar nas urnas ninguém menos que Paulo Salim Maluf, seu contumaz e dileto adversário. Seu reconhecimento como homem público avançou sobremaneira com a construção das estradas vicinais, projeto que interligou as pequenas cidades do interior paulista aos grandes centros do estado.
Antes de deixar o governo do estado, Quércia se dedicou a decretar mais uma derrota a Paulo Maluf, emplacando como seu sucessor o até então desconhecido Luiz Antonio Fleury Filho, promotor de Justiça que sob seu comando esteve à frente da Secretaria da Justiça. Em reunião no Palácio dos Bandeirantes, o editor do ucho.info viu Quércia dar uma lição de otimismo político. Nas pesquisas eleitorais Fleury aparecia com minguados 3% de intenção de voto, mas o então governador não titubeou ao afirmar “vamos para o segundo turno e vamos um pau no turco”. E não foi diferente.
A bordo de uma campanha bem feita e que tinha o seu ápice no jingle que trazia a impactante frase “São Paulo é Paulo porque Paulo é trabalhador”, Maluf arrancou das urnas o reverso do que apontavam as pesquisas eleitorais. Foi o slogan “Quem é são não é Paulo”, aprovado efusiva e celeremente por Quércia, que colocou uma pá de cal nas pretensões político-eleitorais de Paulo Maluf.
Conhecido por seu posicionamento quase folclórico nas convenções nacionais do PMDB, onde circulava impulsionado pelo carisma amealhado ao longo de décadas, Orestes Quércia fez do capítulo paulista da legenda uma espécie de feudo. Tanto é assim, que crescer no PMDB de São Paulo sem a anuência de Quércia era uma missão quase impossível. A prova maior desse domínio se deu na eleição de 2006, quando o agora eleito vice-presidente da República, Michel Temer, voltou à Câmara dos Deputados na bacia das almas.
No âmbito da vida pessoal, Quércia colecionou episódios polêmicos. Foi criticado solenemente por ter incentivado e patrocinado um teatro em Araras, cidade do interior paulista, terra natal de sua sogra, mãe da ex-preimeira-dama Alaíde Barbosa Ulson Quércia. Com projeto de Oscar Niemeyer e mural do reconhecido e premiado Athos Bulcão, o Teatro Estadual de Araras fica à beira da Rodovia Anhanguera, uma das principais do Estado de São Paulo.
Certa vez, um boato noticioso sobre possível doença incomodou profundamente Quércia. Sem perder o jeito caipira de enfrentar a vida, o ex-governador convidou alguns jornalistas para acompanhá-lo em uma corrida. No meio do desafio os jornalistas desistiram por conta do cansaço e Orestes Quércia, ao seu modo, sepultou o assunto.
Quase sempre contundente e essencialmente polêmico, Orestes Quércia será sempre protagonista de importante capítulo da história política nacional.