(*) Gilmar Corrêa –
No terceiro dia de 2011, a chuva não dava trégua em Brasília. Seria sinal de um ano tenebroso na administração pública federal? Quem vai saber!
O fato é que apesar dos desejos de um ano melhor, o governo da primeira presidenta do Brasil, Dilma Vana Rousseff, terá de apertar o cinto. O custeio da máquina pública deverá ser menor. Enxugar as despesas será parte do cotidiano na Esplanada dos Ministérios.
A administração anterior, do presidente-metalúrgico Lula da Silva, deixou várias armadilhas. Elas terão que ser desarmadas em meio às brigas políticas e diante de um ministério que será obrigado a demonstrar coesão.
A presidenta terá de provar também sua capacidade. Uma coisa é ser a gestora de uma secretaria ou de um ministério. Outra é estar à frente da República, onde vale mais o desafio de agregar interesses diversos e contrariados. Dilma chega como o comandante do Palácio do Planalto com o carimbo de uma ‘sargentona’.
Esse estilo, até que se prove o contrário, não seria compatível com os interesses políticos tupiniquins. De um lado está a turma do PT e de outro a do PMDB. Para agradar a essas duas vertentes exige-se estômago de avestruz.
Além de contrariar as primeiras impressões, a mulher-presidente tem no calcanhar a popularidade do seu mentor. Ao contrariar os primeiros interesses, Dilma colocará na mesa seu legado político. Talvez seja esse seu principal problema. Encarar o populismo com seu perfil de administradora pública.
Dilma recebe como herança um governo pontuado por sindicalistas em postos-chave. Essa galera terá que afinar um discurso de concordância, quando a presidenta avisar que o funcionalismo público não terá aumento salarial. A possibilidade real já foi discutida na elaboração do Orçamento Geral da União, tema que infelizmente, não tomou maiores repercussões.
A questão não é torcer para que o novo governo seja ineficaz ou incapaz, mas os dias não serão tão felizes quanto na campanha eleitoral. Dilma pode ter percebido isso ao imprimir uma agenda apertada logo na primeira semana do ano.
Ela quer dar o exemplo, mas haverá capacidade física para que Dilma possa cumprir com uma extensa carga horária? É mais uma questão sem resposta neste momento. O núcleo duro do governo e seus médicos, entretanto, sabem que a presidenta não pode abusar da sorte.
Apesar do otimismo inicial, a prática comum é que o volume de trabalho diminua à medida que o tempo passa. Também fica menor a vontade no Parlamento, que constitucionalmente ratifica as propostas governamentais. Esse “defeito”, digamos assim, já foi apontado pelo próprio ex-presidente Lula da Silva em seus discursos de palanque.
Lula não teria conseguido fazer as reformas por conta do tempo. Deixou passar a oportunidade de obrigar sua base aliada em discutir e votar os projetos estruturantes.
Novamente cai no colo de Dilma essa herança. Sem habilidade política, até agora comprovada, a presidenta teria condições de acelerar essas questões? Mais uma vez a resposta fica com o tempo.