Soltando as frangas

    (*) Marli Gonçalves –

    Plenos dias de uma agitação correndo solta por aí, os blocos na avenida, perfumada de xixi e suor. As fantasias mais doidas afloram. Saem cortejos de reis e rainhas banguelas e desnutridos. Tudo parece mais colorido, mais lisérgico, e é Carnaval no país do samba. Aqui, todo dia é Carnaval. Sorria, você pode estar sendo filmado. Começe a cantar, assobiar, disfarçar para ir saindo de fininho,”ô Coisinha Tão Bonitinha Do Pai, ô Coisinha Tão Bonitinha Do Pai”…

    Cachaça não é água não… Cachaça vem do alambique…

    Líder do governo acha que cachaça é água e alimenta. E vai para o bar tomar champanhe que agora ele é importante. Um intelectual metido que ia e não vai mais porque andou diagnosticando a ministra que ia chefiá-lo já arrumou boquinha em outro bloco. O povo lá de cima, com caneta na mão, em um dia age como a rainha má, “Cortem as contas!”. No outro anuncia gastos e saco de bondades com o meu, o seu, o nosso. Diz que corta viagens, mas vai lá verificar a agenda de alguns destes seres – vai ficar besta de ver como somos tão representados em vários lugares deste mundão. Aproveitando os feriados, vai, já fica por ali…

    – Agora vou mudar minha conduta/ Eu vou pra luta /Pois eu quero me aprumar/ Vou tratar você com força bruta/ Pra poder me reabilitar/ Pois esta vida não está sopa/ E eu pergunto com que roupa?

    Viraram uma casta que de castos nada têm. Heróis enrolados em bandeirinhas ondulantes defendendo os miseráveis, sempre em nome deles, que continuam miseráveis. E apontar isso, falar umas verdades, pode até custar umas amizades, e de gente do bem, que acredita. Não admitem estarem errados.

    – Acorda Maria Bonita / Levanta vai fazer o café / Que o dia já vem raiando / E a polícia já está de pé!

    – Me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!

    O maluco esticado e fardado de lá, com suas medalhas brilhantes, manda bombas em cima do povo. O delirante de boina daqui de perto quer fazer mediação e propõe que Lula, o novo coach que vai derrubar grandes palestrantes de outrora, apareça na confusão. Não haverá guerra interplanetária que resistirá à crise de risos.

    – Olha a cabeleira do Zezé! Será que ele é? Será que ele é?

    Grande dama do sofá da televisão faz estréia de programa em gravação, mas quinze dias antes de ele ir ao ar! Mas, porque era perto do Dia da Mulher todas quiseram fazer entrevista com a presidente, mas o papagaio, a loura e as panelas com ovos chegam antes. E a própria foi descansar na Barreira do Inferno. Verdade. Não é invenção. É área militar, cheia de canhões e tanques.

    – Ah! Eu tô maluca!

    Comissões no Congresso Nacional têm de tudo. De Tiririca a boleiro. De mensaleiro a cara-de-pau. Delegado de partido comunista que vai virar banqueiro. Lobos e peruas. Maluf e Waldemar Costa Neto, o Boy, cuidando da reforma política!

    – A bolsinha do Waldemar/ Dá pra desconfiar/A bolsinha do Waldemar Dá pra desconfiar.

    – Ali, Ali, Ali, Ali-Babá, Ali, Ali, Ali, vem pra cá, Você matou quarenta ladrões/ Mas aqui tem mais milhões!

    No meio do verão, tem frio e chuva. Chuva e frio, e trânsito. Que todo mundo se acotovela para sair para algum lugar e ficar parado perto daqui. Para descansar. De onde vem tanto dinheiro, que só aparece nos bolsos nos fins de semana?

    – Você notou, Que eu estou tão diferente, Você notou, que eu estou tão diferente. A água lava lava lava tudo/A água só não lava/A língua dessa gente.

    No Sul, no Norte, no Nordeste, onde se olha, socorro! Violência gratuita. Loucura de hospício, descontrole, e qualquer vingança é tratada à bala. Parece que estamos é no faroeste barato. Não é jogo virtual, mas tem gente fazendo boliche de ciclistas, de foliões, pulando dos trios elétricos para a morte.

    – Vem cá, seu guarda/ Bota pra fora esse moço/Que está no salão brincando/Com pó-de-mico no bolso!

    Nas tais redes sociais, qualquer coisa é qualquer coisa, corre mundo, e ai de quem discorda de quem concorda. Escola de inglês explica como ganhar gringo no meio do samba. Vira apologia ao turismo sexual. Quanto às crianças obrigadas as se prostituir, a movimentação sempre cessa…

    – Yes, nós temos bananas/ Bananas pra dar e vender/ Banana menina tem vitamina/ Banana engorda e faz crescer.

    Estripulias à parte, neste Brasil varonil, todo dia é mesmo dia de samba. E quem está entrando com o pandeiro somos nós.

    – Chora palhaço/Chora que passa/Pimenta nos olhos dos outros, é refresco/Acho-te uma graça. (bis)

    São Paulo, onde parece que alguém gritou Pega, ladrão!

    (*) Marli Gonçalves é jornalista. Gosta de pensar em manchetes e de cantarolar marchinhas o ano inteiro.

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