Briga de foice – A sucessão de Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes se transformou em queda de braços dentro do Partido da República. Reunida no Senado Federal, a bancada do PR na Casa decidiu telefonar para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e pedir para que o anúncio do nome do novo ministro acontecesse na próxima semana. O PR do Senado não quer endossar por enquanto o nome de Paulo Sérgio Passos, escolhido pela presidente Dilma Rousseff, mas também não quer rifá-lo imediatamente. O objetivo da manobra é minar o poder do deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), que desde a chegada de Alfredo Nascimento na Esplanada dos Ministérios assumiu a presidência nacional da legenda.
Conhecido nos escaninhos da política nacional como “Boy”, Valdemar Costa Neto estava presente no gabinete do ministro dos Transportes no momento do pedido de demissão. Isso mostra que, ao reassumir o comando do PR, Alfredo Nascimento será uma espécie de “presidente-fantoche”, pois o poder continuará sendo exercido por Costa Neto, acusado de envolvimento no escândalo de cooptação de parlamentares e que ficou conhecido como “Mensalão do PT”. O pedido de demissão de Nascimento se deu porque o ministro se recusou a atender um pedido do Palácio do Planalto. O de esvaziar politicamente Valdemar Costa Neto, que, segundo consta, foi o responsável pela indicação de Mauro Barbosa para a chefia de gabinete do ministro dos Transportes.
Na Câmara dos Deputados a bancada do PR, que está reunida neste momento, vive um dilema. Parte dos parlamentares da legenda reprova a indicação de Paulo Sérgio Passos, que na opinião de muitos é um braço avançado de Costa Neto. Outra parte defende o nome de Passos, pois seria uma sinalização de um possível acordo com o eventual futuro ministro.
Líder do PR na Câmara, o deputado Lincoln Portela se vale do fato de ser mineiro para fugir de perguntas sobre o sucessor de Alfredo Nascimento. Ao jornalista Gilmar Corrêa, editor-adjunto do ucho.info e responsável pela operação deste site em Brasília, Portela disse que prefere ouvir os companheiros de legenda. O parlamentar mineiro disse que ainda não uma decisão sobre o nome que assumirá o Ministério dos Transportes, uma espécie de feudo do Partido da República.
No meio do turbilhão gerado pela demissão de Alfredo Nascimento, dois nomes, além do de Paulo Sérgio Passos, surgiram como candidatos ao cargo. O do senador Blairo Maggi, ex-governador do Mato Grosso, e do ex-senador César Borges, candidato derrotado ao governo da Bahia em 2010. Borges, que durante anos engrossou a fileira da oposição ao governo do PT, deixou o Democratas para se filiar ao PR, ocasião em que passou a defender Lula da Silva e sua então candidata, a neopetista Dilma Rousseff.
No olho do furacão que se formou a partir das denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes caiu em desgraça o senador Blairo Maggi (MT), que indicou Luiz Antônio Pagot para a direção-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit, que substituiu o outrora sempre corrupto DNER. Pagot, que ignorou a decisão da presidente Dilma de demiti-lo e saiu de férias, aterrissou no Senado na terça-feira (5) e ameaçou revelar o esquema de cobrança de propinas. As ameaças de Pagot podem ter precipitado a demissão de Alfredo Nascimento. (Foto: Saulo Cruz – Agência Câmara)