Terra sem lei – Prefeito da maior cidade brasileira, São Paulo, Gilberto Kassab continua na sua cruzada para proteger o pedestre, concentrando as ações da administração municipal única e exclusivamente nas faixas de travessia, como se essas fossem as únicas áreas em que os transeuntes são desrespeitados de forma contínua e aviltante.
Nesta segunda-feira (18), a prefeitura de São Paulo deslocou algumas equipes ao centro da capital paulista para uma ação de esclarecimento sobre o uso das faixas de pedestres. A região foi escolhida por concentrar a maior parte dos atropelamentos da cidade.
Muito além das faixas reservadas à travessia dos pedestres, os paulistanos são ignorados por motoristas abusados e donos de bares e restaurantes. No rastro da sensação de impunidade que grassa no País, motoristas transformam as calçadas em estacionamentos privados. E quem ousa contestá-los via de regra é ameaçado.
A reportagem do ucho.info, que foi pioneiro na imprensa nacional por defender os direitos dos pedestres e o uso adequado do passeio público, já foi perseguida e intimidada por diversos transgressores.
Nos Jardins, região nobre e badalada da cidade de São Paulo, os abusos são constantes. Os que comentem as irregularidades sempre encontram uma desculpa esfarrapada, o que reforça a tese de que viver em sociedade no Brasil é uma grande utopia, pois a necessidade pontual de um cidadão é sempre maior e mais importante que os direitos da coletividade. Diante de hotéis, postos de combustíveis e nas proximidades do Ginásio do Ibirapuera, no bairro do Paraíso, a situação beira o caos, dependendo do dia e dos eventos que acontecem na região.
Por outro lado, os proprietários de oficinas mecânicas, borracharias, academias de ginástica, bares e restaurantes fazem das calçadas paulistanas uma extensão dos seus negócios, como se o contribuinte tivesse a obrigação de tirar dinheiro do bolso para financiar a ocupação irregular do passeio público.
Há dias, a reportagem deste site flagrou manobristas de um estacionamento usando a calçada como ponto de manobra de carros, cujos donos pagaram R$ 25 com a promessa de que seus veículos estariam a salvo. Em um estacionamento privado um automóvel está supostamente longe das garras dos assaltantes, mas não significa que não será objeto de desrespeito às leis de trânsito.
Lamentavelmente, em todas as classes sociais, não importando o nível de escolaridade ou o poder aquisitivo do infrator, as barbáries são cometidas a qualquer hora do dia ou da noite. A iniciativa de Gilberto Kassab, de reforçar a segurança nas faixas de pedestres, é importante e necessária, mas é preciso ações imediatas de combate aos abusos nas calçadas. Do contrário, São Paulo continuará como uma terra sem lei.