(*) Marco Rosetti, da Agência Congresso –
O favoritismo da deputada federal Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para ocupar vaga de ministro no Tribunal de Contas da União está ameaçado pela criação de um bloco parlamentar na Câmara. PR, PP, PTB e PSC se uniram para indicar um nome, que poderá ser o deputado Jovair Arantes (PTB) ou Milton Montes (PR). As quatro siglas juntas somam 123 votos.
A disputa de uma vaga para ministro do TCU está acirrada e o alvoroço ocorre graças à candidatura da líder do PSB, a pernambucana Ana Arraes. Aos 63 anos, em seu segundo mandato na Câmara dos Deputados, a filha de Miguel Arraes fechou a semana com uma boa margem de votos no PT, no PSDB e no PSD. Chama a atenção a possibilidade de ser a primeira mulher a ocupar uma vaga no TCU, desde a redemocratização do País. A última que obteve esse mérito foi Élvia Castelo Branco, ainda no período da ditadura militar (1964-1985).
Apesar de ser a única candidata mulher, ela não conta com apoio total da bancada feminina no Congresso. É que cada partido tem um candidato. A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), por exemplo, vice-presidente da Câmara, diz que gostaria de apoiar a companheira deputada. Mas lembra que seu partido tem candidato e que o primeiro compromisso é o partidário. O apoio do filho, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também não agrada a Rose.
“Essa é a primeira chance do PMDB indicar um ministro para o TCU, mas o partido ainda vai se reunir para decidir a questão”, afirmou a deputada capixaba.
O PCdoB, de Aldo Rebelo, fez de tudo para que Ana Arraes desistisse da disputa e apoiasse o candidato comunista. Ela não topou. Quem conhece dona Ana, como os colegas de Congresso a chamam, sabe que ela fala sério. Afinal, desde muito jovem ela enfrentou as dificuldades impostas pela ditadura militar.
Em julho de 1964, aos 17 anos, foi incisiva com o comandante-geral do IV Exército, general Olímpio Mourão Filho, ao pedir que ele liberasse a presença de seu pai, Miguel Arraes, àquela altura preso político em Fernando de Noronha, para que ele pudesse comparecer ao casamento da filha.
Ela tanto fez que o general assentiu. E, em agosto, ela se casou na capela da Base Aérea, cercada por soldados. Do casamento, Miguel Arraes voltou para a cadeia. Ana, já casada, não seguiu com ele para o exílio mais tarde. Só foi revê-lo mesmo em 1970, quando levou seus filhos para conhecer o avô em Argel, capital da Argélia, entre eles, o pequeno Eduardo.
A família só se reuniu para valer em 1979, quando Arraes voltou do exílio e ela passou a acompanhar de perto a carreira do pai. E, mais tarde, a carreira política do filho. Entre os colegas ela é vista como alguém de fibra. Voz baixa, porém firme. E quando toma gosto por alguma coisa, não tem obstáculo que a segure. Na política foi assim.
Tomou tanto gosto que, no ano passado, percorreu 120 mil quilômetros no período de campanha, o que ajudou a multiplicar a votação de 2006. Foram 387.581 votos, o que a colocou entre as campeãs em todo o Brasil.