Cara de pau – Durante anos a fio, quase vinte, o Partido dos Trabalhadores empunhou a cangalha da moralidade pública. Isso aconteceu no período em que o partido puxava a fila da oposição. Quando chegou ao Palácio do Planalto, o PT, sob a desculpa de colocar em marcha seu projeto de poder, não mediu esforços para que o plano saísse a contento. Foi quando surgiu o escândalo de corrupção que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”, o maior da história política nacional.
Sob a crítica de alguns palacianos, o “mensalão” foi criado para comprar a obediência de muitos parlamentares no Congresso Nacional, o que garantiu caminho livre para o rolo compressor palaciano, até hoje acionado quando está em jogo alguma matéria legislativa de interesse do governo.
Com a descoberta do escândalo, que foi merecedor de CPI no Congresso, a saída foi transferir o ônus da corrupção aos partidos da chamada base aliada. Foi então que surgiu em cena a ideia de loteamento da Esplanada dos Ministérios, entregando aos partidos aliados pastas em que tudo era permitido, o que funciona até os dias atuais e explica o impressionante número de ministros demitidos na esteira de transgressões das mais variadas.
O “mensalão” foi admitido por alguns dos acusados, como é o caso do petista Silvio Pereira, o Silvinho Land Rover, que trocou uma eventual condenação por prestação de serviços comunitários. Outros, ainda que na condição de suspeitos, preferiram renunciar aos respectivos mandatos a ficarem inelegíveis por longo período. Foi o caso de Valdemar Costa Neto, recentemente acusado de envolvimento no escândalo de corrupção que chacoalhou a Ministério dos Transportes e custou a cabeça do então ministro Alfredo Nascimento (PR-AM).
Um dos principais operadores do esquema que comprou a consciência de dezenas de parlamentares, o petista Delúbio Soares, que é réu no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal, agora circula pelo País na tentativa de disseminar a tese de que é inocente. Delúbio, que há muito se juntou a um bisonho publicitário que atua na cidade de São Paulo e se dedica aos serviços sujos de campanhas eleitorais, alega que o “Mensalão do PT” não passou de “boato”.
Durante discurso a sindicalistas, em Brasília, o ex-tesoureiro do PT, que como nove entre dez companheiros abusa da desfaçatez, disse que “não há nada contra Delúbio Soares, zero. O que foi feito? Peguei dinheiro emprestado para pagar dinheiro de campanha de aliados. Isso está assumido”. No melhor estilo face lenhosa, Delúbio tentou transferir o problema para terceiros. “Se essas pessoas não oficializaram no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), a culpa não é do tesoureiro do PT”, disse o petista ao comentar sobre o dinheiro do mensalão repassado aos parlamentares.
Como sempre fazem os petistas acusados de envolvimento em casos de corrupção, Delúbio Soares disse que montou em Goiânia uma “imobiliária online”, com possibilidade de expansão dos negócios para Brasília e São Paulo. “É meu ganha pão hoje. É duro pagar aluguel todo mês, mas precisa batalhar”, declarou o mensaleiro Delúbio.
Um dia após perder o mandato de deputado federal por conta de seu envolvimento no “mensalão”, o ex-ministro e agora cassado José Dirceu disse que na semana seguinte retomaria a profissão de advogado, pois precisava pagar contas, inclusive pensões alimentícias. Ou seja, discurso combinado e que consta do manual petista da corrupção.