Carona irresponsável – O combate ao crack na cidade de São Paulo transformou-se em ingrediente de disputa eleitoral, o que é no mínimo um atentado à cidadania. Quando participou de evento natalino com os catadores de lixo, na capital paulista, a presidente Dilma Rousseff falou em limpeza humana. Com essas palavras, Dilma deflagrou a queda de braços entre o PT, que quer assumir o comando político da cidade de São Paulo, e o PSDB, que pode fazer o próximo prefeito, desde que José Serra aceite a incumbência de disputar a eleição.
Diante da possibilidade de o governo federal deflagrar uma operação na maior cidade brasileira para combater o crack, o Palácio dos Bandeirantes decidiu antecipar suas ações e colocou na região conhecida como Cracolândia dezenas de policiais militares. Após as abordagens feitas no local, alguns traficantes foram presos, mas os usuários migraram para outras regiões da cidade, para onde também foram os fornecedores da droga.
Como sempre acontece quando o Estado tenta mudar o status quo, a operação policial recebeu críticas por parte dos usuários de crack, que encontraram nos oportunistas de plantão uma forma de reverberar o assunto. Isso fez com que o Ministério Público paulista decidisse investigar a atuação da Polícia Militar na Cracolândia. Enquanto o tema era discutido no MP, o governador Geraldo Alckmin ordenou à PM o envio de integrantes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), quadro de elite da corporação, para o reduto dos usuários de crack.
Há quem condene o uso da força policial, alegando que o consumo e crack é um problema social e de saúde pública. Na verdade, o consumo de crack é tema múltiplo, pois, além de se enquadrar na seara da saúde pública, requer a participação da polícia para inibir a ação dos traficantes.
O que os paulistanos não podem permitir é que o viés político-eleitoral ganhe destaque em assunto tão sério e preocupante. Se a presidente Dilma Rousseff deseja acabar com o consumo de crack no País, que comece agindo em duas frentes distintas. Nas extensas fronteiras brasileiras, por onde passam armas e drogas em quantidade,o que faz a alegria das Farc, e na própria capital federal, que também tem a sua Cracolândia, a exemplo do que acontece em centenas de cidades brasileiras. Fingir que o problema do crack está restrito à cidade de São Paulo é um insano coquetel que mistura suicídio político, oportunismo eleitoral e despreparo administrativo.