Estranho no ninho – A esquerda latino-americana está em polvorosa por causa do impeachment de Fernando Lugo, ejetado da presidência do Paraguai na última sexta-feira (22). Muitos esquerdistas da porção sul do continente americano disseram que não reconhecem Federico Franco como presidente, mas isso não impede de o Paraguai continuar existindo, pois o processo tramitou dentro do que determina a constituição do vizinho país.
Quando afirmam que a queda de Lugo foi um golpe, esses oportunistas de ocasião desrespeitam a soberania paraguaia, pois aos mandatários estrangeiros não cabe a prerrogativa de ingerir nos assuntos internos de outro país.
De início, a presidente Dilma Rousseff preferiu a prudência em relação ao impeachment de Fernando Lugo, mas em seguida declarou que a deposição do ex-bispo ocorreu em “rito sumário”. Ora, quando esteve recentemente em Cuba, Dilma, questionada sobre a violação dos direitos humanos na ilha caribenha, disse que o governo brasileiro tem por norma não interferir em assuntos internos de outros países. De igual modo, a presidente brasileira preferiu silenciar diante das barbáries cometidas pelo ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Ora, se essa tese vale para a ditadura dos facínoras cubanos Fidel e Raúl Castro e do tirano Ahmadinejad, também vale para o Paraguai.
A decisão de Dilma Rousseff de chamar de volta o embaixador brasileiro faz parte de uma operação orquestrada para tentar salvar a fracassada onda esquerdista que sopra sobre a América Latina. Na Síria, o ditador Bashar al Assad está matando às dúzias sues opositores, mas nem por isso o embaixador brasileiros foi incomodado pelo Palácio do Planalto.
Sem dúvida a democracia, enquanto instituição, foi aviltada durante o célere processo que culminou com a queda de Fernando Lugo, mas a legislação paraguaia prevê o impeachment quando o presidente perde apoio político. E Lugo estava isolado politicamente, o que o dificultava a condução do país.
Calado desde a decisão do parlamento paraguaio, Fernando Lugo se manifestou na madrugada de domingo (24), alegando que sua queda se deu apenas porque tentou “ajudar a maioria pobre” e que “aceitou o veredicto injusto do parlamento, pela paz e pela não violência”. Trata-se de mais um rompante de populismo barato, pois falar em paz e não violência é balela de incompetente. Lugo, que se notabilizou por empregar inúmeros parentes na máquina estatal paraguaia, teria dado um golpe se não aceitasse a decisão do parlamento.
O mais estranho fica por conta da forma pacífica como Lugo aceitou a decisão do Senado paraguaio, o que mostra de forma clara e inconteste que ele [Lugo] tinha plena consciência do seu fracasso político.