Cárcere privado – O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, afirmou nesta quinta-feira (16/08) que seu país não concederá salvo-conduto para o jornalista Julian Assange deixar o país, mesmo após ele ter recebido asilo político do Equador nesta manhã. Em uma declaração surpreendente, Hague afirmou que seu país “não aceita o princípio de asilo diplomático, e que está “decepcionado” com a decisão equatoriana.
“Não iremos permitir que sr. Assange deixe o Reino Unido, nem temos bases legais para isso. O Reino Unido não aceita o princípio de asilo diplomático. Este não é, de longe, um conceito aceito universalmente: o Reino Unido não assinou nenhum tratado jurídico [internacional] que o obriga a reconhecer a concessão de um asilo diplomático por uma embaixada estrangeira em nosso país”, disse chanceler.
“Mais do que isso: mesmo para os países que aceitam reconhecer asilos diplomáticos, este [dispositivo] não deveria ser usado com o propósito de simplesmente fugir dos tribunais. E claramente este é um desses casos”, disse o chanceler, lembrando que o país recebeu um pedido da Suécia para extraditá-lo.
Hague tenta justificar a posição britânica dizendo que a extradição do jornalista “não tem nada a ver com seu trabalho no Wikileaks”. “É importante que se entenda que isso não tem nada a ver com as atividades do sr. Assange no Wikileaks ou às atitudes dos Estados Unidos. Ele é procurado na Suécia para responder a sérias alegações de ofensas sexuais”.
Ameaça
Na quinta-feira (15), o chanceler equatoriano Ricardo Patiño anunciou, em uma coletiva em Quito, que o governo britânico ameaçou invadir a embaixada do país para capturar Assange.
“Sob nossa lei, o sr. Assange esgotou todas as opções de apelo. As autoridades britânicas tem uma obrigação vinculante de extraditá-lo à Suécia. Devemos cumprir com nossas obrigações e temos total intenção de fazê-lo. A decisão do governo equatoriano não muda nada em relação a isso. (…) Permanecemos comprometidos a [encontrar] uma solução diplomática”, disse o chanceler.
Hague não citou em nenhum momento que invadirá embaixada equatoriana. No entanto, disse que o Reino Unido irá tomar ações legais para extraditar o jornalista. Muito se se especula entre especialistas locais e a mídia de o Reino Unido se baseará em brecha legal, baseada em uma lei de 1987. Ela permite ao país revogar o status da representação estrangeira, autorizando a entrada da polícia no prédio para rpender Assange. Dessa maneira, o local perderia caráter de missão diplomática e Assange poderia ser preso.
Do lado de fora da embaixada equatoriana, ativistas pró-Assange protestam lembrando que o jornalista não foi sequer processado na Suécia e que a Justiça do país escandinavo se recusou a entrevistá-lo em Londres. Para ir à embaixada, o australiano violou a prisão domiciliar a que foi submetido durante o processo de extradição.
O caso
Assange, que lançou o Wikileaks em 2010, é procurado pela Justiça da Suécia para responder por um suposto crime sexual. Ele ainda não foi acusado ou indiciado. No Reino Unido, ele travou uma longa batalha jurídica contra sua extradição para o país escandinavo, que se recusava a interrogá-lo em solo britânico. No entanto, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado. Há sete semanas, o jornalista buscou asilo na Embaixada do Equador em Londres, em uma jogada classificada como “tenaz” pela imprensa local.
Assange teme que, após ser preso na Suécia, os Estados Unidos peçam sua extradição, onde poderá ser julgado por crimes como espionagem e roubo de arquivos secretos. O Wikileaks obteve acesso e divulgou centenas de milhares de arquivos diplomáticos norte-americanos, muitos deles confidenciais. (Do Opera Mundi)