Artilharia de ocasião – Nenhum tolo chega ao posto político mais alto de um país, por mais atrasado e pouco importante que seja. E essa tese vale também e principalmente para o Brasil, onde sobram oportunistas de plantão. E foi exatamente por isso, pelo fato de não ser tola, é que Dilma Rousseff chegou ao poder central. E por razão idêntica é que Dilma resolveu comprar, recentemente, duas brigas políticas com seu figadal adversário, o PSDB.
O primeiro capítulo do entrevero surgiu com a nota oficial de Dilma rebatendo artigo de Fernando Henrique Cardoso, que criticou a incontestável herança maldita deixada por Lula. A presidente, que paulatinamente tem conquistado espaço dentro do PT, mesmo não sendo uma petista histórica, precisava de alguma forma agradar os companheiros de legenda. E a nota palaciana não apenas caiu na graça da “companheirada”, como reverberou nas hostes esquerdistas, pois até pouco tempo Dilma tecia elogios a FHC, o que incomodava a cúpula do partido.
O segundo capítulo, que deixou os tucanos em polvorosa, veio no discurso da presidente em comemoração ao Dia da Independência. Na noite da última quinta-feira (6), em rede de rádio e televisão, Dilma Rousseff encontrou espaço em seu discurso para criticar as privatizações realizadas na era FHC, como se as patrocinadas pelo PT fossem diametralmente opostas. Os tucanos prometeram usar a lei contra a neopetista Dilma, mas tudo não passa de ameaça de campanha.
Sem dúvida alguma a presidente ultrajou o bom senso ao criticar Fernando Henrique, mas era preciso de alguma maneira aterrissar na campanha de alguns petistas, principalmente na de Fernando Haddad, que continua como seu dependente político, assim como de Lula.
Se por um lado as críticas de Dilma foram bem recebidas pelos marqueteiros de Haddad, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva deve se preparar, pois sua pupila deu um grande e decisivo passo rumo à reeleição. Lula, diante de câmeras e microfones, afirma ser a favor da reeleição de Dilma, mas é sabido que seu sonho maior é retornar ao Palácio do Planalto em janeiro de 2015.