(*) Oscar Andrades –
Segundo informações colhidas, em Brasília, no início da noite de sexta-feira (7), outras entidades deverão seguir o exemplo da Força Sindical e, do mesmo modo, devem romper com o governo Dilma, pelas mesmas razões apontadas: falta de diálogo; não atendimento de propostas do meio sindical, arrocho salarial, inclusive com o funcionalismo público e militar; desoneração da folha de pagamento criando problemas à Previdência Social; perdas de benefícios no INSS previsto com a reforma do ano que vem e, entre outras, a má remuneração do FGTS e desvio de verbas desse Fundo para a Copa 2014.
Claro que a não correção adequada das aposentadorias e pensões também servem para tornar as relações sindicatos-governo mais ácidas, assim como a manutenção do fator previdenciário. Líderes com espaço no Palácio do Planalto se consideram desprestigiados, mesmo sendo do mesmo partido governista e se classificam órfãos junto aos altos escalões.
Abstendo tal aspecto, o que se denota é que o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, não consegue mais fazer a interlocução com os trabalhadores com a mesma eficiência e respeito, na medida em que canais de diálogos estão completamente fechados. “Dilma pediu que eu seja um sensibilizador das demandas sociais”, disse Gilberto Carvalho, por ocasião de sua nomeação.
Isto, hoje, é uma utopia. Gilberto Carvalho é um dos nomes históricos do PT e possui forte ligação com o movimento social e com os movimentos de base da Igreja, de inspiração a partir da Teologia da Libertação. O secretário-geral da Presidência iniciou sua militância na Pastoral Operária, organização da qual foi coordenador nacional, transitou para a militância sindical e posteriormente afirmou-se como uma importante liderança do Partido dos Trabalhadores, sendo secretário-geral do partido por vários anos. Gilberto ainda coordenou o Instituto Cajamar de formação criado pelo PT e pela CUT.
No primeiro ano de governo Dilma, conseguiu “administrar” e qualificar a relação com o movimento social, não sem muitas tensões como nos casos da rebelião de Jirau e na polêmica construção de Belo Monte. Esta semana, cinco presidentes de Centrais foram “ignorados” pelo Palácio do Planalto. Eles queriam uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff. O objetivo é claro: desejam que o governo federal coloque em votação ainda este ano o projeto que cria uma alternativa para o fator previdenciário. O documento é assinado por dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), segundo informou Vagner Freitas, presidente da CUT.
No momento, o que se pode dizer é que as sucessivas crises do governo Dilma passam a ter outra conotação pelo rompimento até agora de uma Central Sindical. Como praticamente já entramos no processo sucessório de 2014, isso – com toda a certeza – terá reflexos no meio político, cujos desdobramentos são impossíveis de se estabelecer agora. Evidente que se for uma decisão que ganhe corpo com a adesão das demais, os alicerces do Planalto vão tremer.
(*) Oscar Andrades é jornalista e editor do blog “Saúde e Previdência“.