Marco Antonio Sanná –
O brasileiro ainda não aprendeu a fazer conta, pelo menos quando está diante de balanços contábeis e resultados de empresas que se escoram nos cofres oficiais. É exatamente nesse universo de números aparente complexos que se escondem inúmeras armadilhas.
Em 6 de novembro de 2008, a fusão entre bancos que resultou no Itaú-Unibanco criou a maior instituição financeira do Hemisfério Sul, com ativos de R$ 575,1 bilhões.
Patrimônio Líquido de R$ 51,7 bilhões, R$ 17,5 bilhões a mais que o Bradesco, com R$ 34,2 bilhões, que, convenhamos, é e continua sendo um gigante.
Essa fusão foi realizada sem um centavo sequer do governo brasileiro. Parabéns à nossa economia!
Em 21 de janeiro de 2009, o grupo Votorantim compra a Aracruz, empresa da qual já detinha 28%.
A compra anunciada referia-se à parte do Grupo Lorentzen (28%), que somada aos 28% que já possuía resultou em 56%, ou seja, o controle acionário da empresa. No entanto, como a VCP foi a adquirente, querem tentar maquiar que a Votorantim não tem o controle e por isso mesmo aos minoritários não cabe oferta pública. (Lição de ética?)
A Votorantim, com esta aquisição VCP/ARACRUZ, passa a ter mais uma dívida, desta vez de R$ 11 bilhões (anexo Votorantim Dívida), que somada à dívida já existente em 19/12/2008 (anexo Votorantim dívida em 19 dezembro 1 e 2 ), R$ 28,6 bilhões, perfaz o montante de R$ 39,6 bilhões.
Este valor é superior em R$ 5,4 bilhões ao patrimônio líquido do Bradesco. É uma dívida gigante também… Convenhamos que dever um pouco mais do que o patrimônio do Bradesco não é para qualquer um. É preciso competência e coragem de sobra para mamar em onça.
A Votorantim informa na sua página corporativa da internet (anexo Votorantim lucro líquido) que seu lucro líquido é de R$ 4,8 bilhões. Dividamos o passivo pelo lucro liquido, só por curiosidade. Vixe! Chegamos a 8,5, o que significa que a empresa deve 8 anos e meio de faturamento líquido.
Pense bem! Se você tivesse recursos para isso compraria uma empresa cujo endividamento atual corresponde ao faturamento líquido dos próximos 8,5 anos?
É preocupante? Que nada amigo, fique tranquilo! Se você tem ações de qualquer companhia do grupo, sossegue, pois está no mesmo barco que o governo brasileiro, por meio do BNDES. (“O Globo” cai de pau)
Não fosse a Votorantim comandada por Antônio Ermírio de Moraes, esse guardião da moral, da ética, das denúncias de corrupção contra vários governantes, principalmente contra Fernando Collor (época em que contratou a empresa de consultoria do PC FARIAS para realizar pesquisas minerais em Alagoas), eu sentir-me-ia inseguro de ser acionista de qualquer empresa do grupo.
Mas não, estou seguro, ele jamais prejudicaria minoritários, jamais seria um sonegador, jamais faria conchavos com o governo, não é da sua estirpe. Acredito piamente na imagem que construiu ao longo dos anos – de um Everest administrativo, solucionador dos males da nação, de seriedade a toda prova, de severidade na luta contra a cobrança de juros extorsivos por parte dos bancos, enfim, de um verdadeiro farol que ilumina e indica o bom caminho a seguir…, conceito que com muita paciência e determinação conseguiu “vender” à mídia.
Será essa dívida a maior do Hemisfério Sul? Será que o aquecimento global está derretendo o Everest administrativo? Será que a luz da realidade mostrará de vez que esse Everest, diferentemente da real montanha (que abaixo do gelo tem rocha), se transformará numa grande poça d’água?
(*) Marco Antonio Sanná, ex-diretor de Obras do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), é empresário rural.