(*) Ucho Haddad –
Dilma, formalidades à parte, como sempre, no final de semana pensei como foi o seu feriado prolongado de Páscoa. Para quem borbulha fé de encomenda no Vaticano, o feriado cristão deve ter sido enfadonho em suas hostes. Principalmente porque a Páscoa caiu no dia do 49º aniversário da Revolução de 64, algo que brasileiros inconformados com o seu pífio governo já começam a sentir saudades. Essa parcela da população acalentou o sonho de que o coelhinho chegaria com uniforme camuflado.
Dilma, já deixei claro em nossos colóquios redacionais que sou avesso a regimes totalitários, pouco importando se de direita ou de esquerda. O ortodoxismo é sempre assustador e preocupante. O pior nessa epopeia é que a incompetência petista ressuscitou o saudosismo em relação a algo que contribuiu para as obscuras páginas da história nacional. Ou seja, Dilma, vocês conseguiram o impossível. Considerando que o PT é uma reunião de magnânimos, o absurdo cresce como praga na pastagem.
Para dificultar o cenário, o feriado de Páscoa antecedeu o 1º de Abril, dia que a cultura popular verde-loura dedica à mentira, assunto que o seu partido tão bem domina. Querer que petistas deixem de mentir é sonhar com o impossível, até porque não há como mudar o rumo de um grupo que se alimenta no cocho da mitomania. As mentiras palacianas são tantas e tão ousadas, que o PT deveria comemorar esse dia como sendo o da fundação do partido. Pense nisso, Dilma, pois o Brasil merece esse presente.
Sabe, Dilma, a mentira oficial já alcançou o estágio da doença irreversível e terminal, uma chaga que não encontra antídoto. Até mesmo as pesquisas de opinião, as que lhe dão índices recordes de aprovação, foram contaminadas. Aos brasileiros de bem só resta conviver com essa onda mitômana e torcer para que seu tropeço nas urnas de 2014 seja proporcional às mentiras oficiais. Enquanto isso, a alternativa é lidar com a dor de cabeça que o fiasco petista proporciona diuturnamente
Ainda guardo na memória, Dilma, a imagem em que você, após vencer a eleição presidencial, garantiu que combateria a corrupção e montaria uma equipe ministerial com base em critérios técnicos. O que deu a entender que os ministros seriam competentes e que a ladroagem institucionalizada estava com os dias contados. Para manter o trator palaciano estacionado no Congresso Nacional, você aceitou o banditismo político ao lotear a Esplanada dos Ministérios. Fosse apenas a incompetência do seu governo o maior problema, o Brasil seria, mesmo assim, um paraíso cambaleante. Mas você, Dilma, é além de tudo uma azarada. O que mostra que esse olho grego que carrega no pulso é pirata.
Analise comigo, Dilma, sem perder a paciência. Ainda na chefia da Casa Civil, você deu uma carraspana em determinada repórter que acertou na mosca ao confundir apagão com blecaute. São palavras sinônimas, mas isso só vale quando a luz apaga em governo adversário. Nos dias atuais, diante do descalabro que toma conta do País, os brasileiros rezam com o terço em uma mão e uma vela na outra. Não porque são devotos radicais, mas porque têm receio de ficar no escuro e perder a sequência da reza.
Você chegou ao principal gabinete palaciano na esteira do discurso fajuto e embusteiro de que era a “gerentona”, especialista em questões de energia. E confirmando a sua tese chicaneira de que Deus é brasileiro, apenas porque agora o papa é argentino, São Pedro fechou a torneira e o risco de apagão (ou blecaute) ressurgiu em cena. Como petistas jamais são culpados ou erram, a saída foi jogar a responsabilidade no colo da natureza, no mau humor das águas celestiais. A partir de então, a pajelança palaciana passou a focar as chuvas torrenciais, fazendo subir o nível de água dos reservatórios das usinas de energia elétrica.
A estratégia acabou dando parcialmente certo, mas o nível de água dos reservatórios ainda preocupa. E as famosas Águas de Março, aquelas que um dia foram cantadas por Tom Jobim, já fecharam o verão. Em outras palavras, a escuridão desponta no horizonte. Enquanto os reservatórios viam a chuva aumentando o nível de água, que está pela metade, o preço do tomate disparou. Sabe, Dilma, governar um país não é tão fácil como administrar um boteco de porta de fábrica. É preciso planejamento, assunto que você e sua equipe simplesmente ignoram ou desconhecem. O tomate subiu de preço por causa da chuva, dizem os plantadores, que nos salvou da escuridão. Ou seja, escapamos do blecaute, mas a salada do dia a dia enfrenta um apagão de tomate.
Aliás, Dilma, a crise que você nega existir é tão peçonhenta, que até a prateleira da farmácia tem se assustado com a inflação. Com o mais temido fantasma da economia agindo deliberadamente de Norte a Sul, nem mesmo uma reles dor de cabeça sai barato. Considerando que o seu desgoverno é de dar enxaquecas, tomar um analgésico todos os dias é mais devastador no bolso do que na saúde do cidadão. Dilma, um comprimido de aspirina custa, nesse Brasil carinhoso e com a saúde a um passo da perfeição (a afirmação é do seu companheiro Lula), cinquenta centavos. Resumindo, aturar o PT no poder custa pelo menos R$ 182,50 por ano, se a dor de cabeça for leve.
Que situação vergonhosa, Dilma! Você é filiada a um partido de falsos messiânicos que se consideram a derradeira salvação do universo, mas tornou-se refém do tomate, objeto do desejo de nove entre dez brasileiros. Afinal, um quilo de tomate custa R$ 10, o que equivale a quase 1,5% do rico salário mínimo (R$ 678), que os petistas consideram uma colossal conquista.
Sendo assim, Dilma, deixo aqui o humilde convite para um “spaghetti aglio e olio”, porque com molho de tomate está difícil. E de sobremesa teremos aspirina em calda, pois a dor de cabeça disse à boca pequena que será necessário aturá-la pelo menos até dezembro de 2014.
Na verdade, Dilma, o meu desejo, assim como o de milhões de brasileiros, era subir a rampa do Palácio do Planalto com um caminhão carregado de tomates e despejá-los nos gabinetes, começando pelo seu. Mas isso seria o mesmo que dar pérolas aos porcos.