(*) Carlos Brickmann –
O ministro Joaquim Barbosa disse uma série de verdades sobre a vida política brasileira: que o Congresso é ineficiente, incapaz de deliberar, dominado pelo Executivo; que os partidos políticos “são de mentirinha”, sem identificação com os eleitores, sem consistência ideológica e programática. Tudo certo – menos um ministro do Supremo, que deveria falar nos autos, proclamar sua opinião sobre tudo numa palestra para estudantes do Instituto Superior de Direito, em Brasília. E sua desculpa, de que não falou como ministro, mas como “acadêmico e universitário”, é difícil de engolir: o cargo no Supremo não se despe junto com a toga.
Mas o pior não é o que Joaquim Barbosa falou (e que, vamos repetir, é verdade); o pior é o que ele preferiu calar. Não quis falar sobre a reportagem de O Estado de S.Paulo sobre gastos do Supremo com viagens de primeira classe para parentes de ministros. Nem sobre convites para que jornalistas acompanhem ministros ao Exterior e publiquem matérias sobre suas atividades. Nem sobre pagamento de viagens em períodos de recesso, ou para ministros em licença médica – como o próprio Barbosa, licenciado para tratamento de saúde, que viajou 19 vezes para Fortaleza, Rio, Salvador e São Paulo.
São gastos legais – passagens de primeira classe para parentes são pagas pelo Supremo quando sua presença na viagem for indispensável para o evento. Mas quando é indispensável essa presença, e por conta do contribuinte?
Boa pergunta. Mas Joaquim Barbosa disse, e com dureza, que não queria falar sobre o assunto.
A caravana do chuchu que fala
1 – Proposta do governador paulista Geraldo Alckmin ao provável candidato de seu partido à Presidência: que faça caravanas pelo país, para conhecer pessoalmente os problemas e tornar-se nacionalmente conhecido. Alckmin só esquece que Aécio costuma fazer caravanas pelo país – vai de Minas ao Rio todo fim de semana, viaja de Belo Horizonte a Trancoso, estica até Fernando de Noronha. Esquece também que a ideia da caravana é antiga, de Lula, que a usou em 1998. Neste ano, aliás, perdeu a eleição para Fernando Henrique, no primeiro turno.
2 – Alckmin diz que torce pelo Santos (mas não lhe pergunte quem foi Pagão, que ele é capaz de mandar batizar). Na última derrota de seu time, que perdeu o título paulista para o Corinthians, Alckmin postou o seguinte Twitter: “Parabéns ao Corinthians pela vitória do Paulistão. Meu Santos jogou bonito, mas não levou. Mas o tetra vem o ano que vem. Boa noite”.
Como é que o tetra vem no ano que vem? “O tetra” só vem quando o time vence quatro campeonatos seguidos (em São Paulo, só o Paulistano conseguiu a façanha).
Mas alguma coisa Alckmin sabe: Pelé, por exemplo, é marca de café.
Questão de data
A Alstom, firma francesa com forte participação em obras de transporte em São Paulo, já foi punida por distribuir propinas em uma série de países: EUA, Suíça, Itália, Indonésia, México, Zâmbia (em vários, quem recebeu a propina foi preso). No Brasil, o processo continua correndo, ainda sem conclusão.
Colaborando com as reportagens sobre o tema, este colunista informa que, no período em que a Alstom foi acusada de pagar para obter contratos, de 1995 a 2003, São Paulo contava (como até hoje) com governantes eleitos pelo PSDB.
Pense antes de passar
A boataria do Bolsa-Família exige investigação minuciosa, embora seja difícil achar a origem de boatos. Mas outro aspecto merece destaque: boa parte da população é vulnerável a rumores, mesmo absurdos. Há anos circula na Internet o boato da demissão de Alexandre Garcia, por ter feito no ar um discurso contra o Governo; e o boato ainda circula, embora Garcia apareça todos os dias na TV. Outro boato é sobre a rejeição (“ontem”) da Lei da Ficha Limpa – que foi aprovada há anos e já é aplicada nas eleições. Há ainda um Livro Proibido contra Lula – proibido, embora esteja na Internet, tenha sido editado em papel e seja fácil de achar no mercado.
São bobagens; mas o caso da Bolsa-Família não é bobagem e poderia ter causado até mortes. Não dá para acreditar em tudo que se diz.
Bola em campo
Política exige sacrifícios. Dilma Rousseff, por exemplo, deu o pontapé inicial na inauguração do estádio do Recife. Foi fácil ensinar-lhe quem era o grande círculo. Mais difícil foi ficar ao lado do governador Eduardo Campos, que ameaça ser candidato contra ela, e trocar sorrisos – palavras amáveis, não, que não fazem parte de seus hábitos. Impossível foi ensinar-lhe o grito de guerra da torcida do Náutico: “N-A-U-T-I-C-O!”
São letras demais, levaria um tempão decorando.
La garantía soy yo
De repente, a nacionalidade mudou: o Governo fala agora em trazer médicos portugueses e espanhóis e não tem citado os cubanos. Mas o problema é o mesmo: não se pode aceitar que médicos formados no Exterior cliniquem no Brasil sem revalidar o diploma. Cumprir a lei é viável: este colunista conhece uma excelente médica brasileira formada no Peru, e seu diploma foi revalidado.
Enquanto segue a discussão, uma trova enviada a esta coluna: “Seis mil médicos de Cuba/Para atender vocês./Mas a Dilma e o Lula/Vão pro Sírio-Libanês”.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.