As portas do futuro

(*) Carlos Brickmann –

O PT elegeu sua nova, e reformulada, direção. Nomes controvertidos ficaram de fora. José Dirceu, por exemplo. Mas seu filho, Zeca Dirceu, está no comando, ao lado de Mônica Valente, esposa de Delúbio Soares. Nomes consagrados perderam a disputa. A deputada, ex-senadora e ex-ministra Benedita da Silva, por exemplo, mesmo com apoio de Lula e José Dirceu, não alcançou a presidência do PT fluminense. Quem ganhou foi Washington Quaquá, prefeito de Maricá. Grande personagem, o Quaquá: nomeou 132 funcionários sem concurso, todos petistas, muitos vivendo em outros Estados. Deu R$ 3 milhões à Escola de Samba Grande Rio para que o desfile homenageasse Maricá (e pode oferecer mais um milhão). Tantas fez o Quaquá que a Justiça o tornou inelegível por oito anos.

Os concorrentes do PT também se renovam, com vistas ao futuro. O PSB, de Eduardo Campos e Marina Silva, pensa numa chapa jovem para o Governo paulista, com Luiza Erundina, 78 anos, e Walter Feldman (quando Erundina foi prefeita de São Paulo, Feldman foi um dos mais combativos vereadores da oposição). Atraiu o técnico de vôlei Radamés Lattari, o nadador Xuxa, e Magrão, goleiro do Sport Recife. O PTC convocou Joana Machado, ex-mulher do jogador Adriano, para se candidatar a deputada. O PSDB filiou o técnico de vôlei Bernardinho e quer lançá-lo para o Governo do Rio. O PMDB escolheu um ex-secretário da Segurança de São Paulo, Ferreira Pinto, para tentar a deputança.

Já o PR, de Valdemar Costa Neto, não se renovou. Vai de Tiririca, mesmo.

Semana quente

O Supremo Tribunal Federal marcou para hoje o julgamento dos embargos declaratório de dez réus condenados no processo do Mensalão. Entram em exame o Bispo Rodrigues, Breno Fischberg, Henrique Pizzolato, Jacinto Lamas, João Paulo Cunha, José Borba, Pedro Correa, Pedro Henry, Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto. Este tipo de embargo se refere normalmente ao esclarecimento de partes da sentença. Caso os embargos declaratórios sejam rejeitados, os dez réus não terão mais nenhum tipo de recurso a apresentar.

Dependerá do Supremo determinar ou não o início imediato do cumprimento da pena.

Semana muito quente

Se o Supremo determinar a prisão dos réus, surgirá um problema explosivo: o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, sustenta a tese de que a cassação do mandato dos condenados depende de votação no Legislativo, que poderá ou não determiná-la. O Supremo decidiu que, transitado o processo em julgado, a perda do mandato é automática, cabendo à Câmara apenas declará-la. Conflito entre poderes?

Talvez: o deputado Natan Donadon está preso mas mantém o mandato, embora não possa comparecer às sessões.

E daí?

Tudo bem: afinal de contas, quantos parlamentares em exercício do mandato deixam habitualmente de comparecer às sessões?

Campanha fora de hora

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, está o tempo todo nas tevês paulistas apresentando tudo que o Governo considera popular – mesmo que fora de sua área. Padilha, a propósito, deve ser o candidato do PT ao Governo paulista. A propaganda é tão evidente que o ministro, que vive no Pará e lá desenvolveu toda sua carreira política, diz-se paulista e elogia o Estado – no qual nasceu, e que deixou na primeira oportunidade, só retornando quando o chefe Lula mandou.

Detalhe: a propaganda eleitoral nesta época é proibida.

Dois bicudos

Por falar em campanha, um dos grandes problemas do PSDB é que tenta acertar o relacionamento entre seu virtual candidato à Presidência, Aécio Neves, e José Serra. Mais do que desejar outra chance de disputar, Serra quer mesmo devolver aquilo que considerou sabotagem de Aécio em suas duas candidaturas, em 2002 e 2010.

Podem prometer-lhe até uma posição de altíssimo nível, como se fosse primeiro-ministro, que não adianta: primeiro, porque antes de tudo quer vingança, a derrota de Aécio; segundo, porque não vai acreditar em promessas.

Frase

Da coluna Nhenhenhém, do jornalista Jorge Moreno, em O Globo:

Dilma tem obsessão por ruas, parques e jardins. Vira e mexe, ela manifesta o desejo de andar anônima pelas ruas. Quando tentou isso, ainda como candidata, foi abordada: “A senhora é a cara da Dilma!”

Dilma deve ter ficado bravíssima.

Voltando atrás

1 – O governador de Brasília, Agnelo Queiroz, PT, abriu na segunda uma licitação para contratar um jato executivo, com gastos de até R$ 1,3 milhão por ano. Recuou rapidinho, na terça, diante das críticas: a licitação foi cancelada.

2 – O secretário de Governo da Prefeitura paulistana, Antônio Donato, PT, foi afastado diante de eventuais respingos na fraude do Imposto Sobre Serviços. O prefeito petista Fernando Haddad resistiu; mas afastou seu auxiliar de confiança.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.