Milhares vão às ruas na Ucrânia para exigir a associação do país à União Europeia

ucrania_01Forçando a barra – Milhares de pessoas foram às ruas da Ucrânia no domingo (24), em protestos contra a decisão do governo de suspender os preparativos para negociações sobre um acordo de associação com a União Europeia (UE). Estas foram as maiores manifestações de oposição ao governo no país desde a Revolução Laranja, há nove anos.

De acordo com a polícia local, a passeata em Kiev reuniu cerca de 23 mil pessoas. Já organizadores calcularam o número de participantes em 100 mil. Os protestos foram convocados, por carta, pela líder oposicionista e ex-primeira-ministra Julia Timoshenko, atualmente na prisão.

Os manifestantes marcharam com bandeiras da UE e de partidos de oposição até a Praça da Independência, no centro da capital ucraniana. O lugar é considerado simbólico desde 2004, após a Revolução Laranja.

Confronto com a polícia

Após o fim do protesto principal, centenas de manifestantes tentaram romper a proteção policial e entrar na sede do governo. Alguns atiraram pedras. As forças de segurança responderam com cassetetes e gás lacrimogêneo. Não houve prisões.

Na última quinta-feira (21), Kiev surpreendeu, comunicando a suspensão dos trabalhos realizados há anos sobre um acordo de associação com a UE, que seria assinado na próxima semana, em Vilnius, capital da Lituânia.

O anúncio foi feito algumas horas depois de o Parlamento ucraniano ter rejeitado todos os projetos de lei que permitiam a viagem, para tratamento médico, de Timoshenko. A libertação da ex-primeira-ministra, ainda que temporária, era um pré-requisito dos europeus para a assinatura do tratado.

A líder da oposição pediu, a partir da prisão, que o governo assine o tratado, independentemente de uma permissão para que ela realize tratamento médico na Alemanha, como exigido pela União Europeia. “O acordo é o nosso roteiro para uma vida normal. Este é o nosso grande salto para sair de uma profunda e selvagem ditadura, rumo a uma vida civilizada”, afirmou em uma carta, divulgada no domingo.

O presidente russo, Vladimir Putin, havia ameaçado a Ucrânia com restrições nas relações comerciais, caso a ex-república soviética assinasse o acordo. Timoshenko acusa seu adversário, o presidente ucraniano Victor Yanukovitch, de comprometer a independência do país através de uma reaproximação com a Rússia.

O Kremlin vem pressionando o governo da Ucrânia para que o país não se junte à União Europeia. A atitude de Vladimir Putin, que rebate as acusações, vem recebendo críticas de diversos governantes. A questão da pressão exercida pela Rússia é que Putin não quer ver a vizinha Ucrânia se juntando a um projeto de integração política e econômica, liderado por países mais liberais.

É importante lembrar que unir-se a um bloco econômico é sempre uma operação de risco, pois realidades econômicas distintas passam a conviver, da noite para o dia, debaixo da mesma teoria, o que pode provocar danos irreversíveis a determinadas nações. Um desses exemplos de insucesso pode ser facilmente conferido na Grécia, que continua pagando um preço excessivamente alto por juntar-se à União Europeia. Isso se deve ao processo de nivelamento econômico que se dá pelo teto, jamais pelo piso, o que sempre produz consequências imprevisíveis, apesar de todo processo de preparação.

Revolução Laranja

A Revolução Laranja foi uma série de protestos que ocorreram na Ucrânia, entre novembro de 2004 e janeiro de 2005, após as eleições presidenciais de 2004. O nome “laranja” surgiu da cor que os manifestantes adotaram como símbolo do movimento.

Na eleição, concorriam Viktor Yushchenko e Viktor Yanukovych. O resultado foi favorável para Yanukovych, conhecido por seu incondicional apoio à Rússia. As eleições foram marcadas por fraude, intimidações e irregularidades observadas por entidades locais e observadores internacionais.

Os protestos também levaram a greves gerais e a atos de desobediência civil. Yulia Tymoshenko, uma especialista em gás e petróleo, foi uma das líderes do movimento, com o Bloco Yulia Tymoshenko.

A Suprema Corte da Ucrânia ordenou então que a votação fosse anulada em 26 de dezembro de 2004 e estabeleceu um segundo turno. Na segunda votação, Yushchenko venceu com 52% dos votos e Yanukovych ficou com 44%. O vencedor foi anunciado em 23 de janeiro de 2005, em Kiev, e o ato marcou o fim da Revolução Laranja. (Com agências internacionais)