Efeito cascata – Os grandes veículos da imprensa nacional mostram-se preguiçosos diante de fatos que merecem interpretação e análise mais profundas. Não se sabe se essa pasmaceira midiática decorre de falta de vontade ou de conivência com os interesses do Palácio do Planalto.
Na Austrália, mais precisamente em Brisbane, onde participou da cúpula do G20, a presidente Dilma Rousseff, após insistência dos jornalistas brasileiros que cobriam o evento, decidiu falar sobre a Operação Juízo Final, da Polícia Federal, que viabilizou a sétima etapa da Operação Lava-Jato. Dilma, que foi surpreendida pela prisão de executivos de grandes empreiteiras, disse que o esquema criminoso que saqueou os cofres da Petrobras não é o primeiro escândalo da história brasileira, mas o primeiro a ser investigado.
Se a imprensa verde-loura se contentou com essa declaração, por certo não se faz jornalistas como antigamente. Diante de tal declaração, o mínimo que se pode concluir é que escândalos anteriores não foram investigados como manda a legislação vigente no País. Isso pode ter ocorrido por ordem de alguma autoridade que impediu que a verdade fosse descoberta. Considerando que de fato isso ocorreu, alguém deveria ter sido processado por crime de responsabilidade, pois é inaceitável que o Estado deixe de investigar crimes apenas para poupar partidos políticos e seus integrantes.
Que Dilma e Luiz Inácio da Silva, o lobista de empreiteira, travam nos bastidores petistas uma ferrenha queda de braços todos sabem, mas a presidente está decidida a enfrentar o antecessor para garantir um novo mandato minimamente tranquilo. Para tanto, Dilma não tem economizado palavras para estocar o ex-presidente Lula. Uma das recentes declarações mostrou com clareza a que ponto chegou a briga nos subterrâneos do poder. Disse Dilma que não representa o PT, mas a Presidência da República.
No momento em que garante que a ciranda de corrupção que funcionava na Petrobras é o primeiro escândalo investigado de fato no País, Dilma sugere que casos como o Dossiê dos Aloprados, a Operação Porto Seguro, a violação de sigilo fiscal de tucanos e a indicação de um pedófilo para o cargo de assessor da casa Civil não foram devidamente escarafunchados pelas autoridades competentes, começando pela Polícia Federal.
No caso da Operação Porto Seguro, um avanço da Polícia Federal nas investigações colocariam Rosemary Nóvoa Noronha, a Rose, em situação de dificuldade ainda maior e comprometeria sobejamente o ex-presidente Lula, que era apontado como sendo o namorado da então chefe do escritório da Presidência na cidade de São Paulo. Rose, a Marquesa de Garanhuns, foi flagrada em um esquema criminoso de venda de pareceres técnicos de órgãos federais, como, por exemplo, algumas agências reguladoras.
No caso do Dossiê dos Aloprados, que teve o delegado da PF responsável pelo caso removido, além de até hoje ninguém ter reclamado a propriedade do dinheiro em espécie (R$ 1,7 milhão) apreendido pelos policiais, Dilma deve estar satisfeita com o não avanço das investigações, que se levadas adiante teriam ceifado seu atual chefe da casa Civil, o “companheiro” Aloizio Mercadante. Fora isso, o escândalo, se esmiuçado, em algum momento apontaria o envolvimento de Lula com a quadrilha que encomendou um conjunto de documentos apócrifos contra os candidatos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, que em 2006 disputava a Presidência da República e o governo de São Paulo, respectivamente.
Em relação à quebra de sigilo de tucanos em 2010, Dilma também está feliz pelo fato de as investigações não terem prosperado, pois o Brasil esteve diante de um crime grave, que em países minimamente sérios teria desaguado na cassação do registro da candidatura da petista, que à época foi apresentada ao eleitorado nacional como “gerentona” e “garantia de continuidade”.
No tocante à nomeação do pedófilo Eduardo Gaievski como assessor especial da então ministra Gleisi Hoffmann, a PF sequer foi acionada, pois antes disso o governo ignorou as recomendações contrárias feitas pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), a quem cabe o dever de pesquisar a vida pregressa dos indicados para cargos de confiança na máquina federal.