Na contramão – O segundo governo de Dilma Rousseff começou igual ou pior que o anterior. Ainda nas horas de estreia da nova administração, Dilma desautorizou o ministro Nelson Barbosa, do Planejamento, em mais um ato de truculência e destempero comportamental. O que mostra que a presidente reeleita não apenas padece de falta de opinião, mas é refém de setores políticos que insistem em jogar para a plateia, como se a lógica não devesse prevalecer.
Ao tomar posse na pasta do Planejamento, Barbosa disse que o governo enviaria ao Congresso Nacional, ainda este ano, uma nova proposta de reajuste do salário mínimo para o período 2016-2019. Não demorou muito para a presidente, que descansa com a família na base naval de Aratu, na Bahia, determinar que o ministro desmentisse sua própria declaração. Ou seja, a economia brasileira tende a continuar na barafunda que todos conhecem e que colocou o País à beira do precipício da crise.
Para um governo que tem dificuldade de manter o equilíbrio fiscal e busca o aumento de receitas, valorizar o salário do trabalhador é o mínimo que deve fazer, caso queira incentivar o consumo e impulsionar o recolhimento de impostos. Do contrário, o Brasil continuará na trajetória descendente.
Quando Dilma anunciou a atual fórmula de reajuste do salário mínimo, que continuará em vigor, e decidiu que o aumento se daria por decreto presidencial, o UCHO.INFO de pronto afirmou que a medida tinha tudo para ser um tiro pela culatra, especialmente porque o Palácio do Planalto desde então aposta no consumo interno como forma de reverter a crise econômica.
A fórmula vigente reajusta o salário mínimo com base em dupla indexação: o crescimento do PIB de dois anos antes e o índice de inflação, medida pelo INPC, do ano anterior. Como já destacou inúmeras vezes o UCHO.INFO, o salário mínimo de 2016, tomando por base o crescimento da economia em 2014, terá aumento real próximo de zero, uma vez que o avanço do PIB no ano passado deve ficar abaixo de 0,2%. Isso significa que o plano desenhado por Joaquim Barbosa, ministro da Fazenda, e Nelson Barbosa, titular do Planejamento, foi pelo ralo apenas porque a presidente é teimosa, além de ser poço de incompetência quando o assunto é economia.
Únicos nomes respeitáveis da equipe ministerial, Levy e Barbosa certamente não aguentarão desaforos presidenciais por muito tempo, até porque ambos têm o dever de preservar os respectivos currículos. Ou seja, é grande a chance de o novo governo de Dilma Rousseff ser mais do mesmo ou algo ainda pior do que se viu até agora.
Assim, como Joaquim Levy, o ministro do Planejamento começou a trabalhar muito antes do fim do desastrado primeiro governo de Dilma, tendo despachado, no período de transição, no Palácio do Planalto, ao lado do gabinete presidencial. Em outras palavras, Barbosa discutiu a questão do reajuste salarial com diversos assessores palacianos, começando pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que continua dando palpites na economia do País.
É no mínimo irresponsabilidade imaginar que Nelson Barbosa anunciou mudanças no cálculo do reajuste do salário mínimo sem o consentimento da presidente da República. E se assim o tivesse feito, nada de errado existira, pois ele e Levy foram chamados por Dilma para colocar a economia verde-loura nos trilhos, o que não acontecerá tão cedo. Em suma, o segundo governo de Dilma começou muito mal e tem todos os ingredientes para piorar. Afina, a presidente se rende à pressão exercida nos bastidores pelos companheiros de legenda.