Relógio quebrado – É impossível concordar com as declarações estapafúrdias do marqueteiro João Santana, que a mando do governo petista de Dilma Rousseff vez por outra ataca a oposição, mas é preciso reconhecer que os adversários dos atuais donos do poder cada vez mais deixam a desejar. É importante ressaltar que se o Brasil precisa urgentemente de oposição, como já está claro, esse movimento deverá começar a partir da parcela insatisfeita da sociedade brasileira. Isso porque política é um jogo de cena contínuo sustentada por uma interminável defesa de interesses pessoais e partidários.
Muitos ainda insistem em defender o impeachment de Dilma, como se existisse algum fato concreto que permitisse tal ação, mas os adeptos dessa ideia mostram ingenuidade em questões políticas quando insistem no tema. Um processo de impeachment depende de aprovação do Congresso Nacional, o que não acontecerá tão cedo com uma base aliada que troca apoio por cargos na máquina estatal, o que permite roubalheiras sem fim. Destarte, é necessário salientar que nenhum candidato despeja fortunas em uma campanha eleitoral para, se vitorioso, fazer caridade no Parlamento. Negócio milionário, a política continua sendo exclusividade de poucos. Quem está fora quer entrar, que está dentro não quer sair. Por isso é necessário vigilância diuturna por parte da população.
Candidato derrotado na corrida presidencial de 2014, o senador tucano Aécio Neves (MG) não tem estofo para ser a voz maior da oposição. O parlamentar mineiro pode até te sonhado com essa situação, mas a cantilena do estelionato eleitoral praticado por Dilma já perdeu o prazo de validade. Fazer contraponto ao Palácio do Planalto, usina de desmandos e catapulta de incompetências, é tarefa árdua e privilégio de poucos.
Nos últimos anos, o papel da oposição no Congresso Nacional tem sido reverberar os escândalos oficiais levantados pela imprensa, como se a mídia nacional precisasse de gazeteiros de aluguel. A oposição está acomodada e acredita que esse papel é suficiente para barrar a avalanche de absurdos que diariamente descem a rampa do Palácio do Planalto.
Horas depois do discurso desconexo proferido por Dilma Rousseff na abertura da primeira reunião ministerial do novo governo, na Granja do Torto, Aécio Neves ressuscitou das cinzas e trouxe a tiracolo um palavrório que começa a derreter: o estelionato eleitoral cometido pela petista.
Ao criticar a presidente da República por ter cobrado dos 39 ministros uma defesa incondicional do governo, Aécio mais uma vez enfatizou o não cumprimento das promessas feitas por Dilma durante a campanha eleitoral do ano passado. À frente de um governo paralisado e reconhecidamente corrupto, Dilma Rousseff tenta passar à opinião pública a ideia de que o Brasil tornou-se um novo país a partir de 1º de janeiro de 2015. O que não é verdade, pois a petista, em seu novo mandato, é mais do mesmo.
Em nota distribuída à imprensa e recheada de ataques e acusações, Aécio Neves criticou a postura da presidente reeleita de insistir em “contradições e improvisações”. “Ao invés de combater a inflação, a paralisia da economia, a falta de confiança, a presidente pede que ministros combatam boatos. Na verdade, a grande fábrica de boatos tem sido o PT, a candidata Dilma e seu marqueteiro na campanha de 2014. O que está acontecendo agora não é boato. É realidade. A presidente já editou de forma autoritária Medidas Provisórias que retiram direitos dos trabalhadores e aumentam impostos”, disse escreveu o tucano.
Que o Brasil é o eterno país do faz de conta todos sabem, mas não se pode aceitar que oposição ao atual governo seja feita com data marcada. Tal conduta é inviável, pois a presidente mostrou, em seu primeiro governo, a que veio. De tal modo, fazer oposição em alguns meses do ano é algo típico de gente preguiçosa politicamente. Oposição faz-se todos os dias, a cada instante, sendo que a atual situação do País, que vive uma crise econômico-institucional, não tem espaço para recessos parlamentares, férias de políticos e outros quetais.
Se de fato ainda sonha em ser o líder maior da oposição ao Palácio do Planalto, Aécio Neves precisa deixar para trás o palanque eleitoral, arregaçar as mangas e partir para trabalho. Não será a reboque da cantilena do estelionato eleitoral que os brasileiros poderão sonhar com melhores dias. É preciso determinação e vontade para interromper um status quo criminoso que de forma contínua vilipendia a dignidade dos cidadãos e a integridade da nação. Lembrando que o Brasil não mais precisa de atores que fazem do mandato eletivo a senha para a encenação.