Pausa na tensão – A senadora paranaense Gleisi Helena Hoffmann (PT) e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Comunicações), respiram aparentemente aliviados e até esboçam alguns sorrisos encabulados. Isso porque a delação premiada dos executivos da Camargo Corrêa foi adiada devido a desentendimentos entre os advogados da empreiteira e os representantes da Procuradoria da República sobre o período e a extensão da delação.
A Camargo Corrêa se dispõe a revelar tudo que sabe somente sobre a roubalheira na Petrobras, ou seja, as transgressões cometidas no espectro do Petrolão. Por outro lado, os procuradores da República querem que o acordo abranja também os ilícitos cometidos no contexto investigado pela Operação Castelo de Areia, de 2009, que apurou crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, corrupção e financiamento ilegal de campanhas eleitorais, mas foi anulada pela Justiça.
A opinião de quem conhece a fundo a Operação Lava-Jato é de que, quando a Camargo Corrêa abrir sua caixa de maldades, Gleisi e o marido podem se dar por contentes se as punições se limitarem a cassação do mandato da senadora.
Gleisi é freguesa antiga das doações generosas da empreiteira. Levou R$ 1 milhão, ‘por dentro’, em sua campanha ao Senado de 2010. Em 2008, a Camargo Corrêa foi a maior doadora da campanha e Gleisi, na época em que a atual senadora concorreu à prefeitura de Curitiba. De acordo com o site Contas Abertas, “em 2008 a construtora doou apenas R$ 2 milhões para os candidatos nas eleições municipais. Um quarto desse valor foi destinado à candidata à prefeitura da capital paranaense, Curitiba, Gleisi Helena Hoffmann (PT)”.
Gleisi também apresentou grande variação patrimonial nos últimos quatro anos. Um crescimento de patrimônio muito superior ao dos seus principais adversários na disputa pelo governo do Paraná. Em relação a 2010, o patrimônio da petista cresceu 118%. Na declaração de bens da candidata do PT causou estranheza à compra de um apartamento de mais de R$ 1 milhão, no Residencial Quartier, que ocupa um quarteirão no bairro Água Verde, em Curitiba.
O Residencial Quartier é um empreendimento da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) – braço da empreiteira Camargo Corrêa –, o primeiro construído pela empresa em Curitiba. A Camargo Corrêa está sendo investigada há muito pelas autoridades da Lava-Jato, alguns executivos da empresa foram presos pela Polícia Federal por envolvimento com a quadrilha chefiada pelo doleiro Alberto Youssef e por negócios milionários mantidos com o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
A empresa de Paulo Roberto Costa, a Costa Global, tinha contratos com a Camargo Corrêa e pagava comissões que, de acordo com as investigações, pode ter chegado a R$ 8 milhões. A construtora venceu a licitação da Petrobras para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, alvo de desvio de mais de R$ 2 bilhões. Gleisi sabe que quando os executivos da empreiteira começarem a falar não restará pedra sobre pedra.