Alça de mira – De acordo com o que apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, a Jamp Engenheiros Associados Ltda., empresa usada pela construtora Engevix Engenharia para pagar propina em contratos da Diretoria de Serviços, depositou R$ 1,45 milhão para a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro José Dirceu. Os pagamentos foram feitos em 2011 e 2012, ano em que ele foi condenado na Ação Penal 470 (Mensalão do PT).
A quebra do sigilo da empresa de Dirceu mostra que a Jamp pagou R$ 300 mil, em 2011, e R$ 1,1 milhão, em 2012, por serviços de consultoria prestados pela JD, que foi aberta em 1998 e é especializada em prestar “assessoria e consultoria direcionadas à obtenção de cooperação e estabelecimento de parcerias empresariais com os países que integram o Mercosul”.
Os investigadores que apuram o esquema criminoso suspeitam que o ex-ministro fazia lobby para o cartel de empreiteiras que se instalaram à Petrobras para assumir controle de contratos bilionários. O lobby seria disfarçado por meio de contratos de consultorias que jamais existiram.
A Jamp Engenheiros Associados pertence a Milton Pascowitch, apontado na Operação Lava-Jato como um dos onze operadores de propinas na diretoria de Serviços. Ele também foi um dos alvos de condução coercitiva na Operação My Way por ligação com o ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque.
O nome de Pascowitch foi citado pela primeira vez em dezembro passado por Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da estatal, em sua delação premiada como operador de propinas da Engevix na área de Serviços. Barusco era braço-direito de Duque e responsável por arrecadar os valores de propina com os onze operadores que atuavam em nome das empreiteiras na área de Serviços.
Em depoimento ao juiz federal Sérgio Fernando Moro, o vice-presidente da Engevix, Gérson de Mello Almada, confessou na terça-feira (17) que pagava para “lobistas” comissões por contratos mantidos na Petrobras e que a Jamp era uma das empresas usadas para viabilizar os pagamentos.
Pascowitch e o doleiro Alberto Youssef foram citados por Almada como operadores dos valores pagos por ele na esteira de contratos envolvendo as diretorias de Serviços e de Abastecimento, comandadas pelo PT e PP, respectivamente.
Segundo o sócio da Engevix, Pascowitch era o elo da empreiteira com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema. “O Milton (Pascowitch) veio falar: ‘olha, você precisa manter um relacionamento com o partido, precisa manter relacionamento com o cliente e eu me proponho a fazer isso, eu tenho condição de fazer isso’. Ótimo, seja bem vindo”, relatou.
Ainda segundo Almada, em um ano eleitoral a Engevix fez duas doações para o PT, “a pedido (de Pascowitch) repassei dinheiro para o PT, para Vaccari. Como ele (Pascowitch) tinha relacionamento com o pessoal do PT trazia pedidos não vinculados a obras, mas a doações para o partido nas épocas das eleições ou em dificuldades de caixa do partido”.
Na audiência, indagado por um procurador da República se a doação era ajustada com alguém especificamente, o empreiteiro respondeu: “sim, com João Vaccari”.
Além de receber R$ 1,4 milhão da empresa do operador de propinas da Engevix para a Diretoria de Serviços, a própria construtora pagou pelas consultorias de José Dirceu. Documento da Receita Federal mostra que a Engevix pagou R$ 1,1 milhão, entre 2008 e 2011 para a JD Assessoria. O maior valor pago declarado foi em 2010: um montante de R$ 650 mil. Ao todo, a JD declarou R$ 29 milhões em serviços prestados entre 2006 e 2013. “Chama atenção a baixa movimentação financeira do contribuinte, sempre muito inferior aos rendimentos declarados”, revela a Receita.
O executivo da Engevix afirmou que o contrato com Dirceu era para serviço de “lobby” internacional, não tendo relação com a Petrobras. Milton Pascowitch não foi encontrado para comentar o caso.
A assessoria do ex-ministro José Dirceu divulgou uma nota à imprensa negando que haja relação entre os serviços de consultoria prestados pelo ex-ministro e contratos da Petrobrás. Segundo a nota, Dirceu foi contratado pelas construtoras UTC, OAS e Galvão Engenharia para prestar consultoria sobre mercados externos. “A relação comercial com as empresas não guarda qualquer relação com contratos na Petrobras sob investigação na Operação Lava-Jato”, diz a nota publicada no blog do petista. A assessoria ainda informou que o Dirceu está à disposição para prestar esclarecimentos à Justiça. (Por Danielle Cabral Távora)