Zona de conflito – Depois de oito dias de conversas em Lausanne, na Suíça, o acordo nuclear preliminar que pode tirar o Irã do isolamento foi comemorando intensivamente pelo seu povo. Firmado na quinta-feira (1), embora ainda incerto, o compromisso é de fechar um acordo final até 30 de junho.
A ideia é que o acordo final reduza significativamente a capacidade tecnológica do Irã de utilizar seu programa nuclear para a construção de bombas em troca do acesso do país aos mercados e ativos que foram bloqueados nas sanções internacionais.
Assumindo riscos para abrir o diálogo, Obama e o presidente iraniano, Hasan Rouhani, terão de convencer os conservadores céticos em seus respectivos países do acerto da medida.
Com muitos detalhes ainda desconhecidos, nesta sexta-feira a França pediu cautela com o otimismo excessivo. “Não chegamos totalmente ao fim do caminho, o fim do caminho deve ser em junho”, afirmou o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius. “Nada está assinado até tudo estar assinado, mas as coisas estão indo na direção certa”, declarou.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por sua vez, expressou revolta com o pacto, já que, segundo ele, isso pode levar a uma proliferação de guerra nucleares no Oriente Médio.
O acordo preliminar depende da resolução da desavença de 12 anos até 30 de junho. Todas as sanções ao Irã permanecem até um acordo definitivo.
Enquanto isso, na capital iraniana, as comemorações não cessaram após a confirmação do acordo preliminar. Vídeos e fotos publicados nas mídias sociais mostraram carros buzinando em Teerã enquanto os passageiros aplaudiam.
Entre as seis potências envolvidas nas tratativas – Estados Unidos, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Rússia e China – foi o governo de Paris quem adotou a postura mais rígida com Teerã. Fabius disse que a economia iraniana deve conseguir US$ 150 bilhões com o alívio das sanções.
O presidente norte-americano descreveu o acordo como um “entendimento histórico” com o Irã, e o comparou aos pactos de controle de armas nucleares firmados por seus antecessores com a União Soviética, que “tornaram nosso mundo mais seguro” durante a Guerra Fria. Ele alertou, porém, que “o sucesso não está garantido”.
Israel
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu gabinete se opõe duramente ao acordo nuclear preliminar estabelecido pelo Irã e o Ocidente, e exigiu que o acordo final contenha o reconhecimento do direito de existência de Israel.
Netanyahu criticou fortemente as negociações, ordenando que o programa fosse interrompido. Segundo o premiê israelense, o Irã não é confiável e a manutenção de algumas usinas dará espaço para que construam uma bomba. O Irã nega ter ambições bélicas e diz que seu programa tem fins pacíficos.
Netanyahu reuniu seu gabinete para uma sessão especial a fim de discutir o plano preliminar fechado entre o Ocidente e o Irã. “Israel não vai aceitar um acordo que permita um país que deseja nos aniquilar a desenvolver armas nucleares”, afirmou o premiê após o encontro. Mas considerando a possibilidade do acordo final ser fechado, o premiê acrescentou que deve incluir “um claro e não ambíguo reconhecimento do direito de existência de Israel”. Ele afirmou ainda que seu gabinete “está fortemente unido na oposição ao acordo”, o qual é uma ameaça à sua sobrevivência.
“Tal acordo não bloqueia o caminho do Irã em direção à bomba’, ressaltou o israelense. “Tal acordo pavimenta o caminho do Irã para a bomba. E pode muito bem provocar uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio e aumentar os riscos de uma terrível guerra”.
Se cumprido, o compromisso alcançado ontem reduzirá sensivelmente o volume de usinas nucleares em dez anos e restringirá a capacidade de enriquecimento das restantes. Nos dez primeiros anos, os programas de enriquecimento de urânio serão totalmente interrompidos e 95% dos estoques serão liquidados ou transferidos para outro país. Mais de cinco mil centrífugas da usina de Natanz serão coletadas do local e colocadas sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica.
A usina de Fordow, uma preocupação da Casa Branca, será substituída por um “centro de pesquisa avançado”. Mais de mil centrífugas continuarão a funcionar. Das 19 mil centrífugas existentes no país, cinco mil poderão continuar suas atividades a 3,75%. Também não será feito enriquecimento de urânio fora de Natanz e o Irã se comprometeu a aplicar um protocolo adicional em programa de monitoramento e dar mais acesso aos inspetores da ONU.
Netanyahu considera que o acordo mantém a estrutura das usinas intactas. “Eles não irão fechar uma única usina e não vão destruir uma única centrífuga e não interromperão as pesquisas e o desenvolvimento do Irã em centrífugas mais avançadas”, disse. “Ao contrário, o acordo legitimará o programa nuclear ilegal do Irã. Deixará o país com uma vasta infraestrutura nuclear. Uma vasta infraestrutura nuclear continua existindo”, acrescentou. (Por Danielle Cabral Távora)