Bola na trave – Nesta quarta-feira (8), o ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido do empreiteiro Erton Medeiros, diretor da divisão de Engenharia Industrial da Galvão Engenharia, para anular o acordo de delação premiada de Alberto Youssef. O doleiro é um dos principais colaboradores da Justiça na Operação Lava-Jato.
Com base em um parecer de Gilson Dipp, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a defesa alegava que as informações e provas apresentadas por Youssef seriam inválidas porque o acordo foi celebrado com alguém com “personalidade reconhecidamente voltada ao crime”.
Dentre as teses dos advogados, uma era a de que o próprio doleiro descumpriu um acordo de delação que fechou com o Ministério Público em 2003, no âmbito das investigações do caso Banestado, porque teria continuado a cometer crimes e omitido informações relevantes para as investigações, como a prática de crimes envolvendo o ex-deputado federal José Janene (PP-PR), o xeique do Mensalão, morto em 2010.
Compadre de Janene, o doleiro perdeu os benefícios da delação premiada no âmbito do caso do Banestado por ter mentido à Justiça. Na ocasião, Youssef informou às autoridades que viajaria ao exterior para tratar de assunto pessoal e familiar, mas na verdade foi a Paris na companhia de José Janene para cuidar de assuntos relacionados ao Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história da humanidade. Na capital francesa, Janene e Youssef cuidaram de assuntos financeiros em um banco marroquino com filial na cidade-luz.
A defesa do diretor da Galvão Engenharia ainda citava decisões da Justiça Federal do Paraná que haviam classificado o doleiro como um “criminoso profissional”. “O próprio Estado-acusador havia reconhecido que o delator seria um criminoso profissional há no mínimo 20 anos, que já desrespeitou um acordo anterior. Portanto, de que forma seria ele digno de confiança estatal e, portanto, dotado de pressuposto inerente à condição de delator?”, questionavam os advogados de defesa de Medeiros.
Empreiteiro
Erton Medeiros está preso desde novembro de 2014. O empreiteiro é réu pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção, lavagem de dinheiro e uso de documento falso. De acordo com o Ministério Público, o executivo ofereceu propina ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Alguns dias depois de ter sido levado para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, o executivo da Galvão Engenharia afirmou à Justiça que a empreiteira pagou 8,8 milhões de reais, de 2010 a 2014, em propina para Shinko Nakandakari, emissário da diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque, indicado pelo PT para o cargo.
A defesa do empreiteiro chegou a enviar notas fiscais e tabelas que, segundo Medeiros, comprovam a cobrança e o pagamento de propina. Ele afirma que “a Galvão Engenharia foi impingida a pagar à empresa LFSN Consultoria Engenharia entre os anos de 2010 e 2014, por determinação de Shinko Nakandakari”.
Segundo os comprovantes anexados pela empreiteira ao inquérito, o último repasse foi em junho de 2014, quando a Lava Jato já havia sido deflagrada. (Por Danielle Cabral Távora)