Confusão na certa – Após negociações que começaram em janeiro passado, o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e da Constran, desembarcou em Brasília nesta quarta-feira (13) para, no âmbito da Operação Lava-Jato, assinar o acordo de delação premiada no Supremo Tribunal Federal.
O acordo se dará na Suprema Corte porque Pessoa citou em depoimentos recentes nomes de alguns políticos, os quais gozam da prerrogativa de foro. Além disso, as conversas com a força-tarefa da Lava-Jato, em Curitiba, fracassaram. Como havia interesse para que Pessoa revelasse o que sabe, o procurador-geral Rodrigo Janot indicou homens de sua extrema confiança para prosseguir com as conversas. A tática deu certo.
Ademais, nesse turbilhão em que deve se transformar a delação, Ricardo Pessoa é amigo do casal petista Gleisi Helena Hoffmann e Paulo Bernardo da Silva. O empreiteiro já arrolou Bernardo como testemunha de defesa na ação que responde na Lava Jato e é um dos principais financiadores das quatro campanhas de Gleisi.
A UTC financia Gleisi desde sua primeira campanha em 2006, quando a petista concorreu à prefeitura de Curitiba. A empreiteira já repassou R$ 1,5 milhão à petista: R$ 100 mil (2006), R$ 250 mil (2008), R$ 250 mil (2010) e R$ 900 mil (2014). Pessoa também vai prestar depoimento no inquérito que Gleisi responde no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a participação da petista no esquema da Petrolão.
A questão que angustia o casal Gleisi e Paulo Bernardo é saber se a amizade com Ricardo Pessoa sobreviverá ao acordo de delação premiada que o empresário está firmando com a Justiça. Esses acordos, que produzem a redução de penas e eventualmente até anulação das mesmas, dependem da revelação da verdade em sua íntegra. Nesse caso será preciso que Pessoa revele todos os detalhes dos bastidores das doações feitas para as campanhas de Gleisi.
De acordo com o jornal “Folha de S. Paulo”, além de prometer revelar o que sabe, Pessoa pagará uma multa, cujo valor, segundo as últimas conversas com procuradores, pode chegar de R$ 55 milhões. O empresário é acusado por delatores de chefiar um grupo de empreiteiras que se reuniam para decidir o vencedor das obras da Petrobras, o que de chifre caracteriza cartel.
Pessoa deve oficializar o que já narrou na fase de negociação. Ele contou, por exemplo, que doou R$ 7,5 milhões para a última campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) por temer retaliações do partido nos contratos que tinha com a Petrobras.
Segundo Pessoa, a doação foi acertada com Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma e atual ministro da Comunicação Social. O empresário também contou que pagou propina para conseguir o contrato da obra da usina nuclear de Angra 3.