Acordo de J. Hawilla com a Justiça dos EUA passa dos US$ 151 milhões e prevê a venda da Traffic

j. hawilla_12Liberdade milionária – No acordo de confissão firmado entre José Hawilla e a Justiça dos Estados Unidos, o empresário brasileiro se comprometeu a pagar mais de US$ 151 milhões, o equivalente a R$ 473 milhões, em troca da pena de prisão domiciliar. J. Hawilla confessou ter cometido crimes de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro no esquema de pagamento de propina em contratos com patrocinadores da FIFA.

No documento assinado pelo juiz Raymond Dearie, da Corte de Nova York, está o detalhamento de como serão feitos esses pagamentos. O valor é maior do que foi anunciado na quarta-feira (27). Ele prevê que todos os ganhos futuros de Hawilla com contratos vigentes e que foram alvo de corrupção sejam repassados às autoridades norte-americanas.

A primeira parcela de US$ 25 milhões foi paga em 12 de dezembro de 2014, quando Hawilla assinou o termo de confissão. Desse total, US$ 19 milhões foram transferidos por meio de um empréstimo contratado junto ao Banco ABC e tem a empresa de Hawilla, a Traffic, como avalista.

Em dezembro deste ano, o empresário terá de pagar outros US$ 75 milhões à Justiça dos Estados Unidos. Os US$ 51 milhões restantes serão pagos somente em 2016.

Stefano e Rafael Hawilla, filhos do empresário, tentam vender os ativos da família para chegar a esse montante. Caso não consigam, a Justiça dos EUA determina a venda da Traffic e suas subsidiárias nos Estados Unidos e na Europa pelo valor base de US$ 126 milhões. Caso a família consiga negociar a venda da empresa por valor inferior, terá de completar o montante. Se o valor da venda for superior aos US$ 126 milhões, o montante extra também deve ser transferido aos Estados Unidos.

De acordo com o documento, além dos US$ 151 milhões, Hawilla deve repassar à Justiça todos os ganhos que a Traffic obtiver com os quatro contratos, ainda vigentes, investigados na operação do FBI. A investigação apurou pagamento de propina nos contratos firmados pela empresa com a FIFA para a Copa América Centenário, em maio de 2013, a Copa de Ouro e a Liga dos Campeões, assinados em novembro de 2012 e 2013, respectivamente, e o contrato da Copa do Brasil, de agosto de 2012. Esse último inclui ainda contratos anteriores que foram incorporados por se tratarem de um mesmo evento.

O acordo ainda prevê que caso Hawilla não consiga honrar o pagamento dos valores, perderá os benefícios conseguidos, a exemplo da prisão domiciliar, e ainda sofrerá novas acusações criminais.

Porém, caso as estimativas em torno dos resultados da Traffic estiverem corretas, o empresário não deverá ir para a prisão. Só em 2014, a Traffic faturou cerca de US$ 500 milhões. Ele ainda possui um patrimônio imobiliário avaliado em mais de R$ 1 bilhão, além de diversas concessões de rádio e TV, como a TV TEM, afiliada da Rede Globo.

Deflagrada na quarta-feira (27), a operação teve como alvo principalmente dirigentes da América Latina. A Justiça norte-americana indicou que parte das propinas pagas se referiam à organização da Copa do Brasil, Copa Libertadores da América e Copa América.

Os dirigentes das federações de futebol presos em Zurique são: Jeffrey Webb (presidente da Concacaf), Eduardo Li (presidente da Federação Costarriquenha), Julio Rocha (presidente da Federação da Nicarágua), Costas Takkas (ex-secretário geral da Federação das Ilhas Cayman), Rafael Esquivel (presidente da Federação venezuelana), Eugenio Figueiredo (ex-presidente da Conmebol) e José Maria Marin (vice-presidente da CBF).

Eles são acusados de envolvimento em um esquema de corrupção em que delegados da FIFA e outros de organizações dependentes receberam propinas e comissões que somam mais de US$ 100 milhões, de acordo com o Ministério suíço. Em troca, os agentes corruptores “recebiam direitos midiáticos, de publicidade e patrocínio em torneios de futebol na América Latina”.

“A acusação alega que a corrupção é desenfreada, sistêmica, e que está enraizada tanto no exterior quanto nos Estados Unidos”, ressaltou Loretta Lynch, procuradora-geral da Justiça americana. A nota oficial do FBI informava que Hawilla, da Traffic, agência detentora de direitos de transmissão e parceira da CBF, estava diretamente envolvido no caso de suborno.

As acusações também apontam para o recebimento de propinas em troca de apoio nas eleições das sedes das Copas de 2018 e 2022. Os países escolhidos nesses anos foram Rússia e Qatar. (Por Danielle Cabral Távora)

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