Lula diz a “companheiros” que nem mesmo a melhora da economia conseguiria salvar o PT

lula_384Fim de linha – Na quarta-feira (5), em reunião com deputados estaduais e dirigentes petistas, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva avaliou que, ao contrário do escândalo do Mensalão do PT, em 2005, quando o bom desempenho da economia ajudou o partido a superar a tempestade e vencer a eleição de 2006, os efeitos da Operação Lava-Jato não poderiam ser suplantados nem por uma repentina e milagrosa melhora das finanças sob a gestão Dilma Rousseff.

Segundo o cenário projetado pelo petista, a diferença é que, desta vez, existem indícios de enriquecimento pessoal dos envolvidos nos desvios da Petrobras, ao contrário do que ocorreu no Mensalão, cujo objetivo, segundo Lula, era financiar o “projeto político” do partido.

Além de Lula, estavam na reunião na sede do Instituto que leva seu nome, no bairro do Ipiranga, zona sul paulistana, 14 deputados estaduais do PT de São Paulo e os presidentes nacional e estadual do partido, Rui Falcão e Emídio de Souza.

O ex-presidente não citou nominalmente em momento algum o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, preso na última segunda-feira (3) na esteira da Lava-Jato sob suspeita de receber dinheiro desviado da Petrobras para pagar despesas pessoais, como viagens de avião e reformas de imóveis.

Os dois [Lula e Dirceu] não se encontram pessoalmente desde antes da primeira prisão de Dirceu, pela condenação no processo do Mensalão do PT, em novembro de 2013.

Entretanto, a fala de Lula foi interpretada como uma referência à prisão do ex-ministro. Participantes notaram diferenças em relação ao discurso de Lula antes da prisão do ex-ministro, quando o ex-presidente dizia que se Dilma e a economia saíssem da crise levantariam o PT.

Agora, Lula avaliou que a economia pode reerguer o governo, porém não é suficiente para salvar o PT. O enriquecimento pessoal de envolvidos na Lava Jato diferencia o partido das demais legendas e o PT precisa de uma nova “narrativa” para explicar os desvios.

Ainda segundo relatos, Lula chegou a dizer que confia nos companheiros presos, fez a ressalva de que é preciso provar as suspeitas de enriquecimento pessoal e reclamou várias vezes dos “vazamentos seletivos” contra o partido.

De acordo com o petista, diferentemente do Mensalão, quando o até então insuspeito PT foi jogado na vala comum dos partidos que praticam caixa 2 eleitoral, a Lava-Jato diferencia a sigla das demais legendas, o que dificulta a elaboração do discurso de defesa. “Não entendo como pode o dinheiro da mesma empresa ser sujo para o PT e limpo para outros partidos. É como se tivessem dois caixas. Um para o PT e outro para o PSDB”, declarou Lula.

Segundo participantes, o ex-presidente ouviu atentamente avaliações e sugestões de cada um dos convidados durante mais de uma hora e só então falou, por aproximadamente 20 minutos. “Ele está claramente em processo de consulta, procurando o discurso”, ressaltou um deputado. Apesar do tom “duro e cru” adotado em sua avaliação, nas palavras de um dos convidados, Lula também apontou sinais otimistas.

Para o líder petista, a recuperação da economia é uma “certeza absoluta” e pode ocorrer antes do que foi previsto inicialmente pelo próprio governo, a depender das condições internacionais.

A recuperação da economia seria suficiente para afastar as ameaças imediatas contra Dilma – Lula também não usou a palavra impeachment – e garantir o término do mandato.

O petista também fez uma análise positiva sobre o comportamento da presidente diante da crise. Para ele, a presidente passou a dar mais atenção aos políticos, se abrindo ao diálogo e rompendo o isolamento que marcou o primeiro mandato dela. (Danielle Cabral Távora)

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