O Brasil transformou-se no paraíso do “faz de conta”, onde políticos agem ao bel prazer sem que a população se preocupe com as consequências. A situação piora com o passar dos dias na esteira da memória curta do brasileiro, que, é preciso reconhecer, não tem capacidade de registrar a enxurrada de escândalos que move esse furdunço que alguns ousam chamar nação.
Diante do avanço das investigações da Operação Lava-Jato, políticos decidiram se movimentar em Brasília para tentar conter ou postergar a condenação dos envolvidos no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. Para tanto, ressuscitou-se um projeto que trata de abuso de autoridade, como forma de punir aqueles que investigam, julgam e condenam políticos corruptos.
Se o mencionado projeto de lei é um atentado ao bom senso, até porque o objetivo é punir quem tem o dever de combater a corrupção, o escárnio maior materializou-se com a indicação do senador Roberto Requião (PMDB-PR) como relator da matéria.
Dono de voz grave e encorpada e caminhando em corpanzil que hoje registra os sinais da senilidade, armas que vez por outra ainda usa para amedrontar aqueles que o desafiam, Requião é a pessoa menos recomendada para relatar um projeto sobre abuso de autoridade. Afinal, o peemedebista paranaense sempre agiu à base da “carteirada”.
Em outubro de 2001, Requião foi chamado de madrugada para auxiliar um sobrinho que havia se envolvido em acidente de trânsito no centro de Curitiba. Uma camionete ultrapassou o sinal vermelho e chocou-se com um carro que transportava quatro pessoas, duas das quais morreram na hora. O sobrinho de Requião, que estava na camionete, foi retirado do local do acidente pelo tio famoso, em claro e inequívoco abuso de autoridade. A polícia paranaense reclamou da ação do senador, que reagiu com o enfadonho bordão “você sabe com quem está falando/”.
Em abril de 2004, Requião irritou-se com o jornalista Fábio Silveira, de Londrina, que perguntou ao peemedebista se suas críticas à política econômica do então governo Lula representavam um rompimento político com o PT. Enfurecido com o questionamento, Roberto Requião torceu o dedo polegar do jornalista, que teve o seu gravador desligado à força.
Em 2006, o jornalista Celso Nascimento, da “Gazeta do Povo”, foi alvo de processo judicial processo movido por Requião. O político pediu, sem sucesso, a quebra do sigilo telefônico do jornalista, com o objetivo de identificar quem repassava a Nascimento informações sobre investigação do Ministério Público Estadual sobre a suposta existência de uma rede de escutas clandestinas operada por um policial civil aliado do então governador, que grampeava adversários políticos do “chefe”.
Em 2007, a jornalista Joice Hasselmann, à época na rádio Band News FM, em Curitiba, foi duramente ofendida por Requião, pois não aceitava as reportagens produzidas pela profissional. Joice denunciou várias irregularidades no governo do Paraná, algumas delas envolvendo familiares de Requião. O agora senador usou a chamada “Escolinha de Governo”, usada para esculachar secretários e assessores durante transmissão televisiva, e dedicou a Joice Hasselman um sem fim de palavras ofensivas, como se no Brasil não existisse liberdade de imprensa e cavalheirismo e lhaneza fossem coisas do passado.
Joice Hasselman moveu processo contra o senador Roberto Requião, que na primeira instância do Judiciário foi condenado a indenizar a jornalista em R$ 25 mil. Abusando da autoridade e dos relacionamentos políticos, Requião conseguiu no Tribunal de Justiça suspender a decisão judicial. Atualmente, o processo encontra-se no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a vitória de Joice é considerada como certa por todos os advogados que consultaram o processo.
Em novembro de 2009, Ricardo Quarenghi, sobrinho de Requião, envolveu-se em acidente de trânsito, em Curitiba. O veículo Volvo, de placas JOL-6568, “voou” por cima de um Fusca, mas por sorte não houve vítimas. De acordo com testemunhas, Quarenghi passou a direção do veículo para a namorada logo após o acidente, recusando-se a fazer o teste do bafômetro.
Além de estar sem habilitação, o sobrinho do autoritário e truculento Roberto Requião dirigia um veículo repleto de multas. Ricardo Quarengui teria ameaçado as testemunhas, entre elas um jornalista, destacando inúmeras vezes o parentesco com o senador. Horas após o acidente, as testemunhas foram informadas de que, por “ordens superiores”, não seguiriam para a Delegacia de Trânsito.
Em abril de 2011, Requião envolveu-se em outra polêmica. O parlamentar arrancou o gravador da mão do jornalista Victor Boyadjian (Rádio Bandeirantes) que ousou (sic) perguntar sobre sua aposentadoria como ex-governador. Em tom de ameaça e quase chagando às vias de fato, o peemedebista perguntou: “Você já pensou em apanhar?”. O equipamento foi devolvido posteriormente ao jornalista, mas sem o cartão de memória.
Em diversas ocasiões, Roberto Requião, enquanto governador do Paraná, proibiu a Polícia Militar do estado de cumprir mandados judiciais de reintegração de posse de áreas privadas invadidas por movimentos sociais (na verdade são facções criminosas travestidas), os quais eram incentivados pelo próprio peemedebista.
Acostumado a enfrentar os desafetos com truculência verbal e usando a influência política para fazer prevalecer suas vontades, Roberto Requião é um indigente intelectual destrambelhado que age como “chefe do cangaço” para esconder o covarde contumaz que poucos conhecem.
No Senado Federal, todos os parlamentares sabem das peripécias de Requião, mas calaram-se de maneira vil quando lhe deram a relatoria do projeto de lei que trata do abuso de autoridade. Algo que no campo do folclore tem relação imediata e direta com a epopeia da “raposa tomando conta do galinheiro”.