Dias após a publicação da matéria sobre o imbróglio envolvendo a compra, pelo Ministério da Saúde, de medicamento para o tratamento de Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA), o editor do UCHO.INFO foi alvo de ameaças através do aplicativo WhatsApp, por pessoa que certamente estava interessada na conclusão do negócio,cuja roupagem é de mais um escândalo na Esplanada dos Ministérios sob o silêncio obsequioso do presidente Michel Temer.
A LLA é um tipo de câncer em que a medula óssea produz de forma excessiva linfócitos não maduros (um tipo de glóbulo branco) que acabam por atacar os glóbulos brancos e vermelhos, além das plaquetas.
Em abril de 2013, o Ministério Público Federal em São Paulo recomendou ao Ministério da Saúde a adoção imediata de medidas que garantissem a continuidade do abastecimento do medicamento L-asparaginase na rede de hospitais públicos e privados do País. A L-asparaginase é droga mais indicada para o tratamento de Leucemia Linfoide Aguda. Em crianças, a chance de cura com a utilização da L-asparaginase é de 80% a 90%.
A droga deixou de ser fabricada pelo fornecedor do Laboratório Bagó, que à época era importador do medicamento para o Brasil, mas até recentemente nada fora feito para permitir o abastecimento regular nos hospitais públicos e privados.
Por ocasião dos fatos, o Laboratório Bagó, diante da dificuldade de encontrar um novo medicamento, recomendou aos profissionais de saúde do País que “reavaliassem o protocolo de tratamento da Leucemia Linfocítica Aguda” durante os seis meses restantes de distribuição do remédio. A distribuição foi interrompida em junho daquele ano.
Cerca de 3 mil pessoas recebem anualmente tratamento contra leucemia linfóide aguda no Brasil. Segundo a médica Carmem Vergueiro, a leucemia linfóide aguda é o câncer de maior frequência na infância. O índice de cura atinge 95% nas crianças e de 30% a 60% entre jovens e adultos.
O Ministério da Saúde decidiu adquirir o medicamento de um laboratório farmacêutico uruguaio, que importa o produto da China. Contudo, o laboratório uruguaio não tem aprovação da Anvisa e sequer recebeu visita de autoridades brasileiras para checar as condições de produção do medicamento. Os procedimentos exigidos pela legislação vigente para viabilizar a aquisição dos medicamentos foram cumpridos à base do “faz de conta”, mantra nessa catapulta de corrupção em que se transformou o Brasil.
Por ocasião das negociações finais para aquisição do produto, mm graduado servidor do Ministério da Saúde, que ocupa lugar de destaque na estrutura da pasta, em conversa com pessoas próximas disse sem constrangimento: “O que vale é o preço, as crianças que morram”.
Tal afirmação, estapafúrdia e criminosa, é fruto de uma diferença nos preços dos medicamentos dos laboratórios alemão e uruguaio. O Aginasa (alemão) é mais caro, mas tem sua eficácia comprovada por autoridades e profissionais de saúde de 180 países, ao passo que o medicamento uruguaio, que é fabricado na China, não conta sequer com o endosso da Anvisa.
Sabem os leitores que este noticioso não faz jornalismo de encomenda nem se deixa intimidar por criminosos que tentam fazer do Brasil o paraíso da impunidade. A esses proxenetas que gravitam na órbita do poder público deixamos um recado: pensem duas vezes antes de fazerem negócios que lesam a nação e seus cidadãos. Ameaças veladas, eivadas pelo desespero, mostram que estamos no caminho certo. E não descansaremos enquanto a pessoa responsável não for devidamente punida de acordo com o que determina a legislação.
As ameaças ao editor são investigadas por autoridades policiais, que receberam cópia das mensagens e já estão em fase avançada no processo de identificação da pessoa. O desespero do autor das ameaças com a matéria do UCHO.INFO era tamanho, que o link da reportagem foi postado na mensagem criminosa, como é possível conferir nas imagens abaixo.