Temperatura em São Paulo vai subir 3 graus

(*) Rachel Librelon (Agência Câmara) –

A temperatura da cidade de São Paulo aumentou de 2 a 4 graus centígrados nos últimos 30 anos. A elevação da temperatura, apontada pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre, é atribuída à ocupação desordenada da cidade e pode ser percebida principalmente nas áreas mais urbanizadas, onde se formam as chamadas “ilhas de calor”.

Os dados foram apresentados ontem durante a 11ª Conferência das Cidades, na Câmara. Segundo Nobre, até o final do século, a temperatura na capital paulista pode subir outros 3ºC em virtude do aquecimento global. Nobre acrescentou que, mesmo se o processo de urbanização da cidade pudesse ser interrompido, o aquecimento previsto até 2100 não seria evitado. Segundo ressaltou, São Paulo já sofre com um período de estiagem mais pronunciada, chuvas mais intensas, que causam inundações e até mesmo aumento da incidência de raios.

Na avaliação da professora da Universidade Federal de Maringá e coordenadora do Observatório das Metrópoles, Ana Lúcia Rodrigues, além dos riscos ambientais, o adensamento das grandes cidades está gerando metrópoles sem coesão e planejamento. “Os próprios cidadãos resolvem os problemas de mobilidade e de moradia. Daí surgem favelas e ocupações irregulares”, explicou.

Ana Lúcia defendeu a adoção urgente de políticas capazes de solucionar o problema da ocupação das cidades e destacou que o Brasil passa por um momento bastante oportuno para o planejamento urbano. “Estamos passando por uma transição demográfica, em que a demanda por serviços e moradias nas cidades tende a se estabilizar”, comentou.

Carinhanha – Mesmo sem as pressões dos grandes centros urbanos, pequenos municípios no interior do País também enfrentam dificuldades para lidar com crescimento sustentável, segundo a prefeita de Carinhanha (BA), Chica do PT. Na conferência, Chica expôs o desafio da cidade que governa para preservar o rio que leva o mesmo nome da cidade. Segundo ela, para que as margens do rio Carinhanha não fossem ocupadas já foi preciso enfrentar empresários e até o Incra.

“Nossa cidade foi construída sem planejamento. As casas deram as costas para o rio e despejaram seus dejetos nele. O desafio é usar o rio como atração, voltar as casas para ele. Acredito que a única saída é educar, pois não creio que é possível mudar as pessoas apenas com leis”, afirmou.

Problemas locais – O professor da PUC/RJ e jornalista André Trigueiro lembrou que não é possível idealizar propostas que se apliquem por igual e tenham o mesmo efeito em todas as cidades. Ele afirmou que os problemas são locais e as respostas também precisam ser específicas. Trigueiro criticou ainda a descontinuidade de projetos bons por mudanças na administração.

O deputado Cassio Taniguchi (DEM-PR) explicou que, cada vez mais, a preocupação ambiental se transfere para as cidades porque grande parte da população mundial está se tornando urbana. “No Brasil, 85% da população mora nas cidades. As cidades, segundo a ONU, são responsáveis por 75% do consumo de energia e bens e responsáveis por 80% das emissões de carbono, portanto causam aquecimento global”, destacou.