Assim é se assim não fosse, Pedro Bó!

    (*) Marli Gonçalves –

    Antes de entrar, verifique se o elevador está parado no andar. Passarão trezentos anos e toda vez que eu ler essa placa vou ter é muita vontade de rir, embora saiba até que muita gente já abriu a porta e fuimmm pelo poço. Certas perguntas, certas respostas, recomendações e avisos são tão idiotas e redundantes que garantem uma dose de humor todo dia. Ou nos dão uma irritação e uma vontade de matar, de esganar, de picar um. Fizeram isso e remendaram o slogan do nosso país. Como assim?

    São umas batatadas umas coisas que a gente tem de ouvir nessa vida. Algumas a gente tem que ficar quieto, até esquecer, por motivos, digamos, hierárquicos, ou mesmo por elegâncias. Só que isso em um cotidiano tenso, sem grana, com muito calor acumulado, dependendo da temperatura natural do seu sangue, torna-se uma tortura. Se o fluxo sanguíneo for fervente como o meu, o resultado será nome de tira de jornal e peça de teatro: Mulheres Alteradas. Podíamos inventar uma variação Mulheres Alteradas e Homens Cabeça Inchada. “La Niña” pode até não fritar nossos miolos. O que frita é sempre umas poucas e boas que a gente vê e ouve.

    Lembra do Pedro Bó? Vou ter que dar uma explicadinha porque há entre nós, gracias, leitores bem jovens. Na Chico City, o mundo imaginário que Chico Anysio criou nos tempos áureos, ele fazia um coronel, Pantaleão, que só se jactava de grandes feitos, mentiras descaradas. Ele era casado com a Terta, dona que não podia nem pensar em contrariar o coronel, que perguntava: “É mentira, Terta?” “Verdade”, ela confirmava. Eles tinham um agregado simplório, o Pedro Bó, interpretado pelo comediante e circense Joe Lester – e que só fazia perguntas bobas e observações que já eram óbvias. Foi um sucesso, principalmente entre as crianças, que com isso até exercitavam certo tirocínio. “Não, Pedro Bó!” Depois a Revista MAD criou uma seção “Respostas Cretinas para Perguntas Imbecis”, que desfilava um rosário de situações.

    Enfim, essa conversa mole veio a propósito de duas coisas. Uma, a pendenga de um amigo com a Net. “Estou sem internet há dois dias”. O atendente: “Vou dar um site para o senhor acessar agora”. “Dá, Pedro Bó!” Virou uma novelinha que, de longe, me faz rir. Outro dia ele pegou no Google Maps a foto de satélite do local exato onde fica a central de atendimento e fez um círculo. Temo que esteja mesmo planejando um atentado.

    A outra coisa é séria e requer sua atenção, e que pense comigo, que pare, sacuda a cabeça, volte a si, recupere a consciência. Não engula. Trata do tal slogan lançado essa semana para carimbar nosso país. Um slogan deveria servir para definir algo de bom, que nos valorize, positivo, que agregue à “Marca Brasil”. Slogan é slogan. Marca é marca. “País rico é país sem miséria”, que o governo passará a usar é vergonhoso. Burro. Negativo. Óbvio. Esquerdinha. Sem sentido. Ululante, lululante. AH! Melhor parar de dizer o que achei. Assim é se assim não fosse. É Pedro Bó, de nascença.

    Então, tá, a proposta é slogan? Ou propaganda para fazer as pazes com a América Latina, se esfregar na perna do Chávez? Até quando a gente vai aguentar essa bazófia, essa proposta diária de luta de classes, de que pobres subirão aos céus, e de tudo disporão?

    Ouço alguém aí atrás levantando a mão e defendendo a frase, que essa é uma boa proposta? Respondo amigo, que nem precisa falar. Precisa é combater a miséria de verdade, não apenas fazer dominá-la por discursos, por filiação partidária. Não haverá miseráveis realmente, sei lá, nos EUA? Podem ser considerados pobres, então. Nosso IDH lá embaixo, amargamos lá atrás no ranking mundial de detalhes sociais básicos, carregando o analfabetismo, falta de saneamento. E vocês vêm botar embaixo do nome da Nação que “Pais rico é país sem miséria?”. Sob essa égide, passaremos esses próximos anos por baixo da lona, por baixo da “carne seca”, como diriam nordestinos arretados. Com o fiofó a risco.

    Equação simples: já que “país rico é país sem miséria”, conclui-se então que “nosso país é pobre de marré deci”. Pobre de marré, marré, marré… Portanto…

    Levamos um grande projeto brasileiro para o exterior e, ao apresentarmos surgirá o lindo slogan emoldurando a batucada. Antes, era Brasil – Um País de Todos. Não era mal, não me lembro dele ter sido criticado e a idéia que trazia rendeu vários bons comerciais oficiais, inclusive na época da candidatura Dilma.

    Como sou otimista, acho que, com muita coisa para pensar, Dilma deve – só pode – ter deixado essa área tão importante, a comunicação, para outros, e ainda não atinou com esse estrago anunciado. (Ainda) Não simpatizo com ela, mas imagino que ela seja inteligente e também não goste do óbvio, dadas algumas respostas atravessadas e rápidas que sabemos que já sapecou por aí. Vou torcer para dar tempo dela se ligar e trocar. Ou deixar morrer.

    Afinal, se a turma que está no Poder, decidindo e mandando, quer tanto tanto acabar com a miséria, não deve precisar ser lembrada disso logo lá no slogan da Nação. Nem fica bem.

    Podiam escrever a frase no espelho de seus banheiros, por exemplo.

    “Bom Dia. É mentira, Terta?”. – “Não, Pedro Bó!”.

    São Paulo, Jeca Tatu, olhe para os dois lados, espere o sinal fechar. Não feche o cruzamento. Você chegou agora? 2011 acalorado.

    (*) Marli Gonçalves é jornalista. Se você parar para prestar atenção nas frases vazias que nos invadem por todos os lados, vai ver que é “café pequeno” o repertório do Bó. “Trrrrimm”, bem cedinho… “Alô”. “Você estava dormindo?” “Não, Pedro Bó, estava esperando você me acordar com o sininho do telefone”.

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