Lava-Jato: pedido para não ter o cabelo raspado mostra que Rocha Loures está a um passo da delação

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. É o que determina a Constituição Federal em seu artigo 5º, deixando claro que é imperiosa a isonomia no âmbito do tratamento dos cidadãos. Mesmo assim, políticos e operadores do Direito continuam acreditando que apesar dessa anunciada igualdade, alguns são frequentadores de castas superiores.

Um dos que creem nessa absurda teoria da diferenciação entre cidadãos é o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB), o “homem da mala”, flagrado pela Polícia Federal, em São Paulo recebendo R$ 500 mil em propina paga pelo Grupo JBS.

Preso no último sábado (3) por determinação do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Loures está em cela da Superintendência da PF em Brasília, mas prestes a ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.

Em pedido encaminhado ao STF, o advogado de Rocha Loures solicitou que na Papuda o peemedebista não tenha o cabelo raspado, procedimento padrão a que todos os detentos são submetidos. O pedido é no mínimo descabido, pois a Carta Magna, como mencionado acima, determina a igualdade de tratamento.


Em petição, o advogado de Loures alegou: “A despeito do entendimento dessa Corte Suprema, inclusive de vossa excelência, ainda não houve a necessária e indispensável audiência de custódia, o que espera seja realizado o mais breve possível, antes de eventual e desnecessária transferência especialmente que não lhe seja imposto tratamento desumano e cruel, respeitando e assegurando a sua integridade física, especialmente não se lhe raspe o cabelo”.

Mais adiante, no documento, a defesa do ex-parlamentar abusou do devaneio: “Aproveita-se a oportunidade para requerer a vossa excelência que determine, com urgência, que lhe seja assegurado o máximo respeito aos seus direitos e garantias fundamentais, especialmente que não lhe seja imposto tratamento desumano e cruel, respeitando e assegurando a sua integridade física, especialmente que não lhe raspe o cabelo como fizeram no Rio de Janeiro com Eike Batista”.

Rocha Loures ficará preso em ala separada do Complexo da Papuda, onde já se encontra o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, acusado de ser operador financeiro do PMDB. Falar em tratamento desumano e cruel por causa do corte do cabelo é bizarrice jurídica, que nem em sonho vai ao encontro do inciso III do artigo 5º da Constituição: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.

Esse absurdo pedido feito pelo advogado mostra que Rodrigo Rocha Loures, para desespero dos palacianos, não demorará muito para iniciar negociações de acordo de colaboração premiada. Afinal, o efeito do cárcere é devastador e Loures é do tipo “tratado a pão de ló”.

Se a simples possibilidade de ter o cabelo raspado já o leva a pedidos descabidos, o ambiente prisional será o gatilho para a delação. E o presidente Michel Temer que se prepare – e também arrume as gavetas – pois seu “homem de confiança” há de soltar a voz dentro de alguns dias.

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