Declaração de procurador da Lava-Jato sobre convite para ir ao Jaburu é estranha e muito atrasada

A sanha do Ministério Público Federal em relação à derrubada do governo de Michel Temer é absurda e não mais passa despercebida. E esse movimento por certo atende aos interesses da alguma ala da esquerda nacional, que curiosamente permanece silenciosa diante dos acontecimentos.

Integrante da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima revelou, nesta segunda-feira (14), que Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial do presidente da República, convidou-o a encontrar o Michel Temer no Palácio do Jaburu, juntamente com outros membros do MPF. De acordo com Santos Lima, o convite ocorreu em 2016, durante evento da Associação Nacional dos Procuradores da República, em Brasília.

“Nós estávamos recebendo um prêmio, em Brasília. Houve um emissário do presidente, que não era presidente ainda, que nos convidou no Palácio. Nós acreditamos que não era conveniente, porque naquele momento não havia porque conversar com o presidente ou eventual presidente. Nós acreditávamos que esse tipo de reunião naquele momento não haveria uma repercussão positiva para a Lava Jato”, declarou o procurador.

Em 10 de maio de 2016, a força-tarefa recebeu um prêmio da entidade pelo combate à corrupção. No dia seguinte, o plenário do Senado deu início à votação do parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre o impeachment da então Dilma Rousseff. Em 12 de maio doa ano passado, a petista foi afastada da Presidência.

“Foi nesse momento que recebemos o convite, através do interlocutor e esse interlocutor nos convidou a ir até o Palácio e nós dissemos não”, relatou o procurador. “Muitas vezes a decisão decorre do momento. Nós, naquele momento, entendemos que não era o caso de nos conversarmos com o eventual presidente.”

Segundo o procurador, ‘a Lava-Jato está sempre aberta à interlocução’. “Recebemos visita, inclusive, do ministro da Justiça, à época, Alexandre de Moraes. Entendemos que essas visitas se dão dentro de um protocolo. Nós temos um procurador-geral da República que a princípio é o interlocutor do Ministério Público com o presidente da República”, afirmou.


No dia 8 de agosto, Michel Temer recebeu no Palácio do Jaburu a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em encontro que não constava da agenda oficial da Presidência. Raquel chegou por volta das 22 horas, em seu carro oficial. Durante o encontro, ambos trataram da posse da procuradora no comando da PGR, que acontecerá no dia 18 de setembro, um dia após o fim do mandato de Rodrigo Janot.

O procurador da Lava-Jato disse que o convite para ir ao Palácio do Jaburu ocorreu uma única vez. “Só houve um convite e nós recusamos”, disse. “Tenho para mim que encontros fora da agenda não são ideais para nenhuma situação de um funcionário público. Nós mesmos às vésperas, no dia da votação do impeachment, fomos convidados a comparecer no Palácio do Jaburu, à noite, e nos recusamos. Nós entendíamos que não tínhamos nada que falar com o eventual presidente do Brasil naquele momento.”

Causa espécie o fato de Carlos Fernando dos Santos Lima ter demorado tanto tempo para revelar o convite supostamente feito por Rodrigo Rocha Loures, preso em desdobramento da Lava-Jato após deixar uma conhecida pizzaria paulistana carregando uma mala, que, segundo a PGR, continha R$ 500 mil destinados a Temer, o que por enquanto não está comprovado.

Se o tal convite foi considerado inadequado, a revelação não deveria ter ocorrido quinze meses após o fato, mas imediatamente, até porque o Brasil poderia ter seguido outro rumo depois dessa informação. Como isso não ocorreu, o País está novamente diante de um cenário que recepciona a palavra de Rocha Loures contra a palavra de Santos Lima.

A busca pelos holofotes tem feito com que alguns procuradores tecam críticas a Santos Lima nos bastidores, como fez recentemente um membro do MPF ao editor do UCHO.INFO, cujo nome será mantido em sigilo por questões éticas.

Carlos Fernando deveria explicar aos brasileiros não apenas o pífio espetáculo de histrionismo protagonizado pelos integrantes da Lava-Jato em Curitiba, mas os motivos que levaram os procuradores a selarem acordo de colaboração premiada com o doleiro Alberto Youssef, que descumpriu regras da delação no âmbito do escândalo do Banestado.

Em conversa telefônica com o jornalista Ucho Haddad, um procurador da Lava-Jato disse, sem titubear, que Youssef não deixaria a prisão antes de cem anos. Uma aberração jurídica, pois a legislação penal brasileira não permite períodos prisionais superiores a trinta anos. O doleiro está livre e solto em São Paulo, ensaiado a publicação de um livro sobre a Lava-Jato e alguns detalhes de sua canhestra biografia.

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